Rio de Janeiro, 31 dez (RV) - No dia 1º de janeiro, celebramos a Solenidade
da Maternidade Divina de Nossa Senhora e também o Dia Mundial da Paz. Podemos, sem
dúvida, ver nexos profundos entre as duas celebrações. Com efeito, a garantia de que
o bem e a paz vencem o mal e a violência vem-nos d´Aquele que, sendo Deus, nasceu
como homem do seio de Maria. Ele é o «Príncipe da Paz». A Virgem, por sua vez, viu
serem realizadas em si mesma e em favor do povo de Deus grandes maravilhas. Ela, que
acreditou, é exemplo para cada um de nós e para a sociedade como um todo de que a
esperança em Deus não decepciona. De fato, tudo pode ser mudado pela fé e pela confiança
de que não estamos sozinhos na empreitada da construção da paz. A fé é uma disposição
para acatar a vontade de Deus em nossas vidas, disposição capaz de renovação e transformação.
Maria, por causa de sua fé e de sua adesão incondicional a Deus, pôde contemplar as
maravilhas que só Deus, atuante em nossas vidas, pode realizar.
O Santo Padre
Bento XVI, em sua «Mensagem para o Dia Mundial da Paz», tratou do tema da preservação
do meio ambiente. A natureza, afinal, é o nosso grande e comum lar neste mundo, e,
como tal, merece nosso cuidado. A nossa paz, e, sobretudo, a das gerações futuras,
depende do nosso bom relacionamento com a obra da criação de Deus. Mas nossos clamores
e ações em favor da preservação da natureza só serão eficazes se, de fato, houver
uma mudança de mentalidade. É urgente reavaliar nossa concepção de desenvolvimento.
Não menos urgente é uma visão adequada do ser humano, uma vez que existe também, como
diz Bento XVI, uma «ecologia humana».
O desenvolvimento não pode basear-se
na sede desenfreada de lucro a qualquer custo. Não deve consistir apenas em uma questão
de estratégia para o acúmulo de bens materiais, às vezes deixando à margem ou na exclusão
uma ampla parcela de povos empobrecidos e miseráveis. Não pode também restringir-se
aos aspectos materiais da vida humana. É urgentíssimo que aprendamos ou reaprendamos
o que significa «desenvolvimento integral». Este está atento a todas as dimensões
do ser humano e às suas relações fundamentais com o mundo, o outro e Deus.
A
noção de «pessoa» é de fundamental importância para a correta compreensão de quem
é o homem. O homem é «pessoa», isto é, é dotado de uma dimensão espiritual, pela qual
pode reconhecer a verdade, o bem e a beleza; pode desejar o Absoluto e aceitá-lo como
«dom» em Jesus Cristo; pode amar os semelhantes e cuidar do mundo no qual habita.
Nossa atual civilização, dominada pela técnica, corre o grande risco de esquecer-se
da dignidade pessoal do homem, transformando-o em meio para fins ou em simples «máquina»
a serviço do bem da tecnologia. Uma cultura para a qual só existem valores técnicos
priva o homem de reconhecer sua verdadeira grandeza, porque o afasta de sua própria
interioridade e da capacidade de contemplar desinteressadamente a beleza da existência.
Quero aqui desejar a todos, particularmente aos meus arquidiocesanos da Arquidiocese
de São Sebastião do Rio de Janeiro, buscando a cada dia reconciliação e renovação
espiritual, a paz que vem da fé e da confiança em Deus; a paz que podemos construir
pelo reconhecimento dos valores fundamentais; a paz que acontecerá na medida em que
buscarmos e soubermos receber como «dom» a verdade sobre nós mesmos. Maria Santíssima,
com o seu «sim», seja nossa inspiração. Como Ela um dia cantou, possamos cantar também
no ano que se inicia: «Grandes coisas o Poderoso fez em meu favor» (Lc 1,49).
Feliz
e abençoado 2010 para todos nós!
+ Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ