BENTO XVI: GRANDE RIQUEZA CULTURAL DA IDADE MÉDIA CRISTÃ, FONTE DE CRESCIMENTO E INSPIRAÇÃO
PARA O MUNDO DE HOJE
Cidade do Vaticano, 29 dez (RV) - Bento XVI fará nesta quarta-feira, na Sala
Paulo VI, no Vaticano, a última das 44 audiências gerais de 2009.
Após as primeiras
audiências dedicadas a São Paulo, que concluiu o ciclo de 20 catequeses sobre o Apóstolo
dos Gentios, o pontífice desenvolveu, nestes meses, a apresentação de grandes escritores
da Igreja do Oriente e do Ocidente do tempo medieval.
Tratou-se de uma série
de meditações que, sobretudo, ressaltaram a extraordinária e multiforme riqueza da
Idade Média, para além dos fáceis estereótipos que etiquetam essa época sob o clichê
de "idade das trevas".
As catedrais e as universidades, a teologia e a filosofia:
a Idade Média é rica de luzes que iluminam a história e a cultura da Europa. Em 2009,
Bento XVI fez uma fascinante viagem através de suas catequeses percorrendo a história
medieval.
O pontífice recordou a renovação espiritual promovida pelos monges
beneditinos, em particular os da Ordem de Cluny.
Ressaltou a preciosa contribuição
que a experiência dos mosteiros deu para a formação da identidade européia, evocando
o primado de Deus e favorecendo a promoção dos valores humanos e da paz.
O
Santo Padre convidou a não se perder esse tesouro:
"Caros irmãos e irmãs, rezemos
a fim de que todos aqueles que se interessam por um autêntico humanismo e pelo futuro
da Europa saibam redescobrir, apreciar e defender o rico patrimônio cultural e religioso
destes séculos." (Audiência geral de 11 de novembro de 2009)
Séculos nos quais
despontam figuras extraordinárias como São Bernardo de Claraval, um dos grandes Doutores
da Igreja. São Bernardo – explicou o papa – chama a atenção para as tentativas de
"resolver as questões fundamentais sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo somente
com as forças da razão". Advertência mais do que nunca atual – observou Bento XVI:
"A
fé é, sobretudo, encontro pessoal, íntimo com Jesus, é fazer experiência da sua proximidade,
da sua amizade, do seu amor, e somente assim se aprende a conhecê-lo sempre mais,
a amá-lo e segui-lo sempre mais. Que isso possa acontecer com cada um de nós!" (Audiência
geral de 21 de outubro de 2009)
Outro grande pensador medieval a quem o pontífice
dedicou uma catequese foi Santo Anselmo de Aosta. O monge beneditino, conhecido com
o apelativo de "Doutor Magnífico" coloca sempre o seu pensamento a serviço da "contemplação
de Deus". E ensina que a atividade do teólogo se desenvolve em três fases:
"A
fé, dom gratuito de Deus a ser acolhido com humildade; a experiência, que consiste
no encarnar a Palavra de Deus na própria existência cotidiana; e, por fim, o verdadeiro
conhecimento, que jamais é fruto de raciocínios ascéticos, mas de uma intuição contemplativa."
(Audiência geral de 23 de setembro de 2009)
O Santo Padre dedicou uma meditação
sobre a teologia escolástica, fundada por Santo Anselmo, para indicar como também
o homem de hoje precisa de um diálogo respeitoso entre fé e razão, de unidade e harmonia
entre eles. E recordou que a teologia escolástica está ligada ao nascimento das primeiras
universidades, outra grande "invenção" da Idade Média. De fato, falando sobre a teologia
escolástica, o papa afirmou:
"A teologia escolástica recorda-nos que entre
fé e razão existe uma amizade natural, fundada na mesma ordem da criação (...) A fé
está aberta ao esforço de compreensão por parte da razão; a razão, por sua vez, reconhece
que a fé não a mortifica, pelo contrário,a impele a horizontes mais amplos e elevados."
(Audiência geral de 28 de outubro de 2009)
Mas a Idade Média é também a época
em que o anúncio do Evangelho alcança os confins mais longínquos do mundo então conhecido.
São protagonistas dessa bem-sucedida missão Cirilo e Metódio, apóstolos do Oriente
cristão, evangelizadores dos povos eslavos. Eles são os precursores da inculturação
– recordou Bento XVI:
"Efetivamente, Cirilo e Metódio constituem um exemplo
clássico daquilo que hoje se indica com o termo "inculturação": todo povo deve receber
em sua cultura a mensagem revelada e expressar a sua verdade salvífica com a linguagem
que lhe é própria. Isso supõe um trabalho de "tradução" muito árduo, porque requer
a identificação de termos adequados a repropor, sem traí-la, a riqueza da Palavra
revelada." (Audiência geral de 17 de junho de 2009)
Ainda na Idade Média se
afirma o "caminho da beleza", que é, talvez, o itinerário "mais atraente e fascinante
para conseguir encontrar e amar Deus" – ressaltou o papa. Uma beleza que, através
das catedrais, educou à fé inteiras gerações cristãs:
"As catedrais góticas
mostravam uma síntese de fé e de arte harmoniosamente expressa mediante a linguagem
universal e fascinante da beleza, que ainda hoje suscita admiração (...) O projetar-se
para o alto queria convidar à oração e era ele mesmo uma oração. A catedral gótica
queria traduzir assim, em suas linhas arquitetônicas, o anseio das almas por Deus."
(Audiência geral de 18 de novembro de 2009) (RL)