Cidade do Vaticano, 27 dez (RV) - O poema abaixo, o maior já escrito em louvor
à Virgem Maria, possui 5785 versos e veio à luz nas praias de Ubatuba, na época Iperoig,
no litoral paulista. Seu autor, Pe. Anchieta, estava com 29 anos e ainda não era sacerdote.
Ele passou cinco meses nessa região, como prisioneiro dos índios tamoios.
Por causa das animosidades e até guerras entre os portugueses e os índios, Pe. Nóbrega
e Anchieta se entregaram como reféns aos tamoios.
Passado um tempo, Pe. Nóbrega
voltou para São Vicente e, com lágrimas, deixou sozinho o jovem Anchieta.
Este,
vendo o que acontecia aos demais prisioneiros, que eram comidos em banquetes de amizade
entre os indígenas e por estar sofrendo muito assédio por parte das índias, resolveu
pedir a proteção de Nossa Senhora para sua vida e para sua castidade, prometendo lhe
dedicar um poema. Sabendo que Maria o protegeria, começou a escrevê-lo imediatamente.
Os versos, comentados abaixo por Pe. Cesar Augusto dos Santos e declamados
por Silvonei José, é parte da seção dedicada ao Natal.
"Tu vestes o
céu de estrelas e os animais de variadas peles, os campos de gramados verdes. E
tu, nu a vagir e a tremer no duro chão... a expremer-te lágrimas das ternas pálpebras o
despiedado inverno?
Ó meu Filho, glória do céu, igual ao Pai celeste, que
nasceste tão belo do meu seio! O minha felicidade, que dor atroz me punge as
entranhas de Mãe, ao ver-te em tais tormentos! Tu ao homem dás vida, pasto
aos animais, cibato às aves e até aos vermezinhos se estende a tua mão.
E,
agora, te atormentam a impiedosa fome e sede ardente: é tão escasso o sustento
que meus peitos te dão! Eia, belo Infante, esgota este meu peito que transborda: sorve,
filho, o leite de tua mãe! Prenda de teu Pai, jorra do peito para matar a sede
que te abrasa os lábios. A chama do teu amor derrete-me as entranhas e um calor
melífluo me penetra os ossos, ao contemplar-te, autor da vida, de labiozinhos presos
ao meu peito a sugar o teu sustento humilde. Eis que, no leito de meus braços,
eu te sustento, Homem-Deus, glória dos altos céus!"
O Apóstolo traduz,
nos primeiros versos, a consternação do coração de Maria ao ver seu filho, o Rei do
Universo, nascer em uma pobreza imensa.
Não apenas dói no coração de mãe
a rudeza do local, mas ver a que ficou reduzido, por causa da viagem inesperada, o
singelo enxovalzinho de seu bebê.
E ele, seu neném, foi quem criou tudo e
tudo revestiu com beleza imensa.
Ao mesmo tempo, Maria conversa com seu filho.
É sua oração de mãe! Ela, dentro de sua humildade, diz a Jesus que o leite que possui,
que é seu alimento, foi dado pelo Pai.
Finalizando este texto, temos Maria
fazendo de seus braços, o leito de seu filho criança, muito semelhante ao que fará
anos mais tarde, portando no colo seu corpo inerte.
Maria, a Mãe, a que sempre
ofertou seu Filho ao Pai, para nossa salvação! (CAS)