Rio de Janeiro, 24 dez (RV) - É Natal! «Um menino nos nasceu, um filho nos
foi dado» (Is 9,5). Essas palavras do profeta realizaram-se no Natal do Senhor Jesus
Cristo. Recebemos como «dom» um menino. O menino nos veio da ação criadora do Espírito,
que o gerou no seio puríssimo de Maria sempre virgem. Nascendo de uma virgem pela
ação do Espírito, fica claro que ele é um verdadeiro «presente» de Deus à humanidade,
um presente que a humanidade jamais poderia dar-se a si mesma. Ele veio do alto. Nasceu
de uma mulher porque é plenamente humano. Mas nasceu de uma virgem para significar
que sua morada entre nós supera radicalmente as nossas possibilidades ou as nossas
forças e mesmo as nossas expectativas.
O mistério de Deus é grande, é por
demais profundo! Nossas pobres palavras podem apenas balbuciá-lo. «Senhor, estupendas
são as vossas obras! E quão profundos os vossos desígnios!» (Sl 91,6). Ele veio restaurar
a criação e levá-la à plenitude do Reino de Deus. Veio libertar-nos do pecado e da
morte e de todos os males e garantir-nos a vida verdadeira. Veio apontar-nos o caminho
para a comunhão de vida com o próprio Deus, Trindade Santíssima, fonte de toda felicidade
e paz. A verdadeira comunhão com Deus gera e sustenta em nós a autêntica comunhão
com nossos semelhantes e com toda a criação.
No mistério do menino, é Deus
mesmo quem visita seu povo. A celebração do Natal deve levar-nos à contemplação piedosa
da extraordinária caridade manifestada no nascimento de Belém. O Todo-Poderoso se
faz uma frágil e indefesa criança; o Imenso, que nada pode conter, é reclinado numa
manjedoura; Aquele que com seu braço forte rege o universo inteiro é acolhido e conduzido
pelas mãos humanas; o Todo se esconde no fragmento; o Invisível se mostra visivelmente;
Aquele que habita uma luz inacessível coloca-se ao nosso alcance! Ele é o “rosto humano
de Deus”! Como não reconhecer que estas coisas extraordinárias aconteceram porque
Deus ama «loucamente» e sem medidas a sua criatura, a cada um de nós em particular?
A
contemplação do mistério de Deus, manifestado no nascimento do menino, não pode deixar-nos
indiferentes. Se Deus nos ama tanto, como não amá-lo também? O amor, ensina São Paulo,
é o «vínculo da perfeição» (Cl 3,14). Deus nos ama por primeiro (cf. IJo 4,19). Recebendo
o seu amor em nossa vida, somos purificados e renovados para amá-Lo como convém e,
n’Ele, amar nosso próximo com verdadeiro «amor-doação». O amor vence nosso orgulho
e nos abre para a infinitude da Verdade, do Bem e da Beleza, o que enche de alegria
nossa vida e dá sentido a nosso caminho. Sendo mistério de caridade, o Natal deve
suscitar em nós o amor que renova todas as coisas. Só no amor podemos construir, pois
o amor é positivo. Ao celebrarmos o Natal, tendo os olhos fixos no Menino-Deus, podemos
exclamar com as palavras de São João: «Deus é amor» (1Jo 4,8)!
É importante
que celebremos com nossas comunidades esse Mistério da Encarnação para que, verdadeiramente,
possamos celebrar como cristãos o Natal do Senhor! Que a nossa participação na liturgia
seja consciente, piedosa e repleta de admiração pelo mistério celebrado! Que em nossa
vida, aquilo que de Deus recebemos seja compartilhado com nossos irmãos! A todos um
santo e feliz Natal!
+ Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ Ouça a mensagem gravada por Silvonei
José: