TEÓLOGO BRUNO FORTE COMENTA DISCURSO DO PAPA À CÚRIA ROMANA
Cidade do Vaticano, 22 dez (RV) - "Devemos livrar-nos da ilusão de que somos
inocentes", devemos fazer de modo que possamos "receber de Deus a coragem" da conversão
e da renovação: é uma das passagens fortes do discurso do papa dirigido ontem, segunda-feira,
à Cúria Romana para as felicitações natalinas.
Em seguida, o pontífice ressaltou
a necessidade de cada um de nós de reconhecer a própria culpa e de fazer penitência.
Portanto, um caminho de verdade e de amor indicado por Bento XVI.
Foi o que
ressaltou o arcebispo de Chieti-Vasto – centro da Itália – o teólogo Dom Bruno Forte,
entrevistado pela Rádio Vaticano:
Dom Bruno Forte:- "O chamado a se
tomar consciência da própria culpa é simplesmente a expressão dessa profunda exigência
de verdade diante de Deus e diante dos outros, que é condição de autenticidade humana
e de liberdade. Aí o papa se une ao que foi o grande ato de João Paulo II de pedido
de perdão por ocasião do Jubileu do 2000 pelas culpas dos filhos da Igreja. Um pedido
de perdão motivado mediante o texto "Memória e reconciliação" produzido pela Comissão
teológica internacional quando o então Cardeal Ratzinger era o presidente dessa Comissão:
pois bem, naquele texto se evocava o princípio evangélico "A verdade vos fará livres",
para recordar a urgência de ser como Igreja e cada discípulo, sempre "verdadeiros":
verdadeiros diante de Deus e diante dos outros porque é esta verdade – também no reconhecimento
das nossas culpas, da nossa falibilidade – que nos torna mais humanos, mais autênticos,
mais discípulos do Senhor Jesus."
P. O papa também relançou o diálogo com
os distantes, exortou à criação de um espaço para os não-fiéis...
Dom
Bruno Forte:- "Na realidade, no momento em que se faz um caminho de verdade o
fiel descobre ser um ateu que todos os dias precisa começar a crer, isto é, a descobrir
que se encontra numa exigência de contínua conversão. O não-fiel, que não é negligente,
mas pensativo e inquieto, descobre precisar interrogar-se não simplesmente "etsi Deus
non daretur" – como se Deus não existisse – mas também na hipótese "velut si Deus
daretur", como se Deus existisse. Creio que nesse confim de verdade e de liberdade
fiéis e não-fiéis precisam de espaços extraordinários de encontro e de diálogo, respeitoso
do outro, como também aberto ao passo seguinte que a luz da verdade pode suscitar
no coração de todos." (RL)