Bento XVI exorta as Autoridades a empenharem-se de modo decidido em relação ao ambiente:
discurso a oito novos Embaixadores, entre os quais o da Dinamarca. Recordadas as condições
para a paz e o lugar da religião na vida pública
No momento em que, em Copenhaga, os mais altos representantes das nações se pronunciam
sobre as transformações climáticas, tentando chegar a empenhos concretos, também Bento
XVI quis tomar posição e exortar todos a assumirem as suas responsabilidades . Referimo-nos
ao discurso pronunciado nesta quinta-feira de manhã, no Vaticano, ao receber as cartas
credenciais de Embaixadores de oito países: Dinamarca (onde tem lugar, precisamente,
a Cimeira sobre o Clima), Finlândia, Letónia, Uganda, Sudão, Quénia, Bangladesh e
Cazaquistão. O Papa sublinhou também as condições para uma “paz universal” e o lugar
e responsabilidades das religiões na vida pública.
Bento XVI começou por recordar
um aspecto já sublinhado na sua última Encíclica “Caritas in veritate”, isto é, a
necessidade de restaurar uma justa relação entre o homem e a criação onde este vive
e actua. Perante a criação, dom de Deus aos homens, estes devem assumir a responsabilidade
que lhes toca de administrarem no modo melhor a criação. O Papa advertiu que não se
pode contrapor esta responsabilidade ambiental à urgência de pôr termo aos escândalos
da miséria e da fome. Pelo contrário, as duas questões estão ligadas entre si. Mais
ainda: “a contínua degradação do meio ambiente constitui uma ameaça directa para a
sobrevivência do homem e para o seu próprio desenvolvimento”, podendo vir a constituir
mesmo uma ameaça directa para a paz entre as pessoas e os povos”. Em relação à criação,
é preciso, portanto, “assumir, tanto a nível individual como político, compromissos
mais decididos e mais partilhados”.
“Encorajo vivamente as Autoridades políticas
dos vossos países, e do conjunto das nações, não só a reforçarem a sua acção a favor
da salvaguarda do ambiente, mas também – já que o problema não pode ser enfrentado
apenas a nível de cada um dos países – a serem uma força de proposta e encorajamento,
para chegar a Acordos internacionais impositivos, que sejam úteis e justos para todos”.
Impõe-se mobilizar as inteligências e a criatividade de todos, intensificando
a investigação aplicada em vista de uma utilização mais eficaz e sã das energias e
dos recursos disponíveis. Esforços que aliás não dispensam uma transformação do actual
modelo de desenvolvimento das nossas sociedades.
“A Igreja propõe que esta
profunda modificação – a descobrir e a viver - se oriente pela noção de desenvolvimento
integral da pessoa humana. De facto, o bem do homem não reside num consumo cada vez
mais desenfreado e na acumulação ilimitada de bens – consumo e acumulação reservados
a um pequeno número e propostas como modelos de massa”.
Neste aspecto – prosseguiu
Bento XVI, neste discurso aos novos Embaixadores junto da Santa Sé – ´”não é só às
religiões, mas também ao Estado, que toca a responsabilidade de sublinhar e defender
a primazia do homem e do espírito. O Estado há-de cumprir este dever “nomeadamente
através de uma política ambiciosa que favoreça para todos os cidadãos – em plano de
igualdade – o acesso aos bens do espírito. Na verdade, estes valorizam a riqueza do
elo social e encorajam o homem a prosseguir na sua busca espiritual”.
Para
além da responsabilidade de autoridades e dos indivíduos em relação ao meio ambiente
e ao bem comum de todos os cidadãos, Bento XVI sublinhou a concluir o contributo das
religiões a favor da paz, um bem universalmente desejado. Há que tender à paz universal,
“sem utopia e sem manipulações” – observou o Papa.
“Todos sabemos que, para
se estabelecer, a paz precisa de condições políticas e económicas, culturais e espirituais.
É por vezes difícil a coexistência pacífica das diferentes tradições religiosas, no
seio de cada nação. Mais do que um problema político, esta coexistência é também um
problema religioso que se coloca a cada uma destas tradições, no seu próprio interior.
Cada crente está chamado a interrogar Deus sobre a Sua vontade a propósito de cada
situação humana”.
Ora – reflectiu o Papa – “reconhecendo Deus como único
criador do homem – de todo e qualquer homem, qualquer que seja a sua confissão religiosa,
condição social e opiniões políticas – cada um respeitará o outro na sua unicidade
e na sua diferença”.
“Perante Deus, não há qualquer categoria ou hierarquia
de homem, inferior ou superior, dominador ou protegido. Para Ele não há senão o homem
que Ele criou por amor que quer ver viver, em família e em sociedade, em harmonia
fraterna”.
O mundo político e económico tem “por vezes dificuldade de dar
ao homem o primeiro lugar” – reconheceu Bento XVI, para quem “mais delicado ainda
é admitir a importância e a necessidade do religioso, assegurando à religião a sua
verdadeira natureza e o seu lugar na dimensão pública”. Ora a paz só poderá surgir
de um desejo e acção conjugados dos indivíduos e das autoridades:
“A tão desejada
paz só poderá surgir da acção conjunta do indivíduo - que descobre a sua verdadeira
natureza em Deus, e dos dirigentes das sociedades civis e religiosas – que, no respeito
pela dignidade e pela fé de cada um, souberem reconhecer e dar à religião o seu nobre
e autêntico papel de plena realização e aperfeiçoamento da pessoa humana”.
“Trata-se
– concluiu o Papa - de uma recomposição global, ao mesmo tempo temporal e espiritual,
que permita repartir de novo para a paz universal que Deus deseja”.