CARDEAL MARTINO: MENSAGEM DO PAPA CONVIDA A SUPERAR EGO-CENTRISMO E ECO-CENTRISMO
Cidade do Vaticano, 15 dez (RV) - O "respeito pela criação" e a sua defesa
do descuido ou dos abusos dos quais muitas vezes o ambiente é vítima são hoje "essenciais
para a convivência pacífica da humanidade".
Essa é a tese de fundo que Bento
XVI afirma e articula em sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1º de janeiro de
2010, intitulada "Se queres cultivar a paz, preserva a criação", apresentada esta
manhã na Sala de Imprensa da Santa Sé pelo presidente emérito do Pontifício Conselho
da Justiça e da Paz, Cardeal Renato Raffaele Martino, e pelo secretário do organismo
vaticano, Dom Mario Toso.
Em 14 pontos, o papa entra no mérito dos problemas
político-financeiros dominados pela crise, bem como das relações entre nações ricas
e pobres e dos comportamentos coletivos ou singulares, que colocam em risco a saúde
do planeta. E lança um apelo por um governo responsável e partilhado do ambiente e
de seus recursos, no respeito pela criação que traz impressa em si a imagem de Deus.
Bento
XVI – afirmou o Cardeal Martino – ressalta que para custodiar a criação é necessária
uma "profunda renovação ética e cultural".
A mensagem para o Dia Mundial da
Paz chama todos ao sentido de responsabilidade para a construção da paz no respeito
pela criação. E se distancia de uma visão redutiva da natureza e do homem:
"Portanto,
o Santo Padre rejeita os dois extremos do ego-centrismo, que permitiria ao homem comportar-se
como tirano diante da criação, e do eco-centrismo, que privaria o homem da sua transcendente
e superior dignidade. O percurso indicado pelo Santo Padre é um percurso de profundo
equilíbrio, interior e exterior, entre o Criador, a humanidade e a criação."
O
Cardeal Martino observou que, além disso, o papa, embora denunciando uma verdadeira
crise ecológica, oferece uma leitura realista e, no entanto, "jamais catastrófica
da realidade e da atual crise ecológica".
De fato, na mensagem jamais se perde
de vista a esperança na inteligência e na dignidade do homem. Em seguida, o presidente
emérito de Justiça e Paz ressaltou que não é casual a escolha do papa de dedicar a
Mensagem ao tema da ecologia.
Efetivamente, este ano celebra-se o 30º aniversário
da proclamação de São Francisco de Assis como padroeiro dos cultores da ecologia.
O
Cântico das Criaturas ensina-nos que o amor pela criação, "se projetado num horizonte
espiritual, pode levar o homem à fraternidade com o próximo e à união com Deus – foi
a reflexão do Cardeal Martino.
Respondendo às perguntas dos jornalistas, o
purpurado fez votos de que a Conferência da ONU sobre o clima, em andamento em Copenhague,
na Dinamarca, se conclua com um sucesso:
"Eu espero que encontrem uma base
comum. A responsabilidade maior tem sido, até agora, dos países altamente desenvolvidos;
porém, também os países em rápido desenvolvimento não dão tanta atenção a essa produção
de dióxido de carbono. Fazemos votos de que, ao invés do dissenso, consigam alcançar
um acordo."
O presidente emérito de Justiça e Paz reiterou a importância das
energias renováveis, como também da energia nuclear civil. Em seguida, afirmou que,
também diante de fenômenos como o aquecimento global, o papa encoraja todos a assumirem
estilos de vida caracterizados pela sobriedade. Todos os anos – denunciou o purpurado
– nos países industrializados 30% dos alimentos acabam no lixo:
"A cada ano,
somente na Itália deixam de ser vendidas 240 mil toneladas de alimentos, representando
um valor de mais de um bilhão de euros, o que seria suficiente para alimentar 600
mil pessoas com três refeições diárias."
Por sua vez, o secretário do Pontifício
Conselho da Justiça e da Paz, Dom Mario Toso, indicou, de um lado, a necessidade de
uma autoridade mundial que regulamente as dinâmicas ambientais, de outro, de um envolvimento
da sociedade civil.
Dom Toso frisou que a mensagem do papa convida à responsabilidade
reiterando a importância da educação. E fez votos de que neste período natalino não
se recorra ao shopping selvagem, mas se adote, sobretudo, uma atitude de sobriedade.
(RL)