FREI CANTALAMESSA: QUE O SACERDOTE SEJA O BOM PERFUME DE DEUS NO MUNDO
Cidade do Vaticano, 12 dez (RV) - Todo sacerdote deveria manifestar "o bom
perfume de Deus no mundo". Com essa imagem, Frei Raniero Cantalamessa expressou uma
das passagens centrais de sua segunda pregação de Advento, feita na manhã desta sexta-feira
na Capela Redemptoris Mater da residência pontifícia, no Vaticano, na presença
do papa e dos membros da Cúria Romana.
Falando da sacralidade conferida ao
sacerdócio mediante a unção sacerdotal, o pregador da Casa Pontifícia estigmatizou,
vice-versa, a infidelidade daqueles presbíteros que, dando escândalo, provocam a rejeição
a Cristo por parte do povo.
É possível que o "perfume" de Deus se transforme
em "mau cheiro"? Sim, se quem foi incumbido a difundir tal perfume, por graça e ministério,
como um sacerdote se comporta com aquele "árido intelectualismo", ou pior, com aquelas
atitudes escandalosas que impedem ao perfume de expandir-se ou causam a sua degeneração.
A
articulada metáfora foi utilizada pelo frade capuchinho para dar incisividade à meditação
dedicada aos sacerdotes como "ministros do Espírito", segundo a definição de São Paulo.
Como
Cristo, o sacerdote é "ungido" por Deus e tal "unção" comporta efeitos concretos,
experimentáveis, na jornada de um sacerdote:
Ter a unção significa, portanto,
ter o Espírito Santo como "companheiro inseparável" na vida, fazer tudo "no Espírito",
em sua presença, com a sua guia (...) Tudo isso se traduz, externamente, em suavidade,
calma, paz, ora em autoridade (...) É uma condição caracterizada por uma certa luminosidade
interior que dá facilidade e padrão no fazer as coisas. É Um pouco como a "forma"
para o atleta e a inspiração para o poeta."
Portanto, a unção "confere um poder
interior real" graças ao Espírito Santo. Todavia – observou Frei Cantalamessa – há
um risco comum" a todos os Sacramentos:
"O risco de deter-se ao aspecto ritual
e canônico da ordenação, à sua validez e liceidade, e não dar a devida importância
(...) ao efeito espiritual, à graça própria do Sacramento, neste caso, ao fruto da
unção na vida do sacerdote. A unção sacramental nos habilita a realizar certas ações
sagradas, como governar, pregar, instruir; dá-nos, por assim dizer, a autorização
para fazer certas coisas, não necessariamente a autoridade no fazê-las; assegura a
sucessão apostólica, não necessariamente o sucesso apostólico."
E citando uma
passagem de São Paulo aos Coríntios, o frade capuchinho reiterou: "Este deveria ser
o sacerdote: o bom perfume de Cristo no mundo!" Mas o Apóstolo nos adverte, acrescentado
logo em seguida: "Temos este tesouro em vasos de argila". Sabemos muito bem, diante
da dolorosa e humilhante experiência recente, o que tudo isso significa.
Frei
Cantalamessa constatou ainda que são muitos os sacerdotes, "ignorados no mundo", que
difundem "em seu ambiente o bom odor de Cristo e do Evangelho".
E concluiu
citando o perfil ideal do sacerdote descrito pelo Pe. Lacordaire, religioso francês
do Séc. XIX:
"Viver no meio do mundo sem nenhum desejo por seus prazeres; ser
membro de cada família, sem pertencer a nenhuma delas; partilhar todo sofrimento (...)
curar toda ferida; ir todos os dias a Deus para oferecer-Lhe a devoção e as orações
dos homens, e todos os dias voltar aos homens para trazer-lhe o perdão de Deus e a
sua esperança; ter um coração de aço para a castidade e um coração de carne para a
caridade (...) Ó Deus, que gênero de vida é esse? É a sua vida, ó sacerdote de Jesus
Cristo!" (RL)