Cidade do Vaticano, 09 dez (RV) - Cada dia 9 do mês o Programa Brasileiro da
Rádio Vaticano dedicará um espaço à Voz de Anchieta, para recordar esse grande Apóstolo
do Brasil.
ORAÇÃO DA MÃE AO FILHO RECÉM-NASCIDO
Como sabemos, o poema abaixo, o maior
já escrito em louvor à Virgem Maria, possui 5785 versos e veio à luz nas praias de
Ubatuba, na época Iperoig, no litoral paulista. Seu autor, Pe. Anchieta, estava com
29 anos e ainda não era sacerdote.
Ele passou cinco meses nessa região, como
prisioneiro dos índios tamoios. Por causa das animosidades e até guerras entre os
portugueses e os índios, Pe. Nóbrega e Anchieta se entregaram como reféns aos tamoios.
Passado um tempo, Pe. Nóbrega voltou para São Vicente e, com lágrimas, deixou
sozinho o jovem Anchieta.
Este, vendo o que acontecia aos demais prisioneiros,
que eram comidos em banquetes de amizade entre os indígenas e por estar sofrendo muito
assédio por parte das índias, resolveu pedir a proteção de Nossa Senhora para sua
vida e para sua castidade, prometendo lhe dedicar um poema. Sabendo que Maria o protegeria,
começou a escrevê-lo imediatamente.
Os versos que comentaremos integram a
seção dedicada ao Natal.
“Tu vestes o céu de estrelas e os animais de
variadas peles, os campos de gramados verdes. E tu, nu a vagir e a tremer no
duro chão... a expremer-te lágrimas das ternas pálpebras o despiedado inverno?
Ó
meu Filho, glória do céu, igual ao Pai celeste, que nasceste tão belo do meu seio! O
minha felicidade, que dor atroz me punge as entranhas de Mãe, ao ver-te em tais
tormentos! Tu ao homem dás vida, pasto aos animais, cibato às aves e até
aos vermezinhos se estende a tua mão.
E, agora, te atormentam a impiedosa
fome e sede ardente: é tão escasso o sustento que meus peitos te dão! Eia, belo
Infante, esgota este meu peito que transborda: sorve, filho, o leite de tua
mãe! Prenda de teu Pai, jorra do peito para matar a sede que te abrasa os lábios. A
chama do teu amor derrete-me as entranhas e um calor melífluo me penetra os ossos, ao
contemplar-te, autor da vida, de labiozinhos presos ao meu peito a sugar o teu
sustento humilde. Eis que, no leito de meus braços, eu te sustento, Homem-Deus,
glória dos altos céus!”
O Apóstolo traduz, nos primeiros versos, a consternação
do coração de Maria ao ver seu filho, o Rei do Universo, nascer em uma pobreza imensa.
Não apenas dói no coração de mãe a rudeza do local, mas ver a que ficou reduzido,
por causa da viagem inesperada, o singelo enxovalzinho de seu bebê.
E ele,
seu neném, foi quem criou tudo e tudo revestiu com beleza imensa.
Ao mesmo
tempo, Maria conversa com seu filho. É sua oração de mãe! Ela, dentro de sua humildade,
diz a Jesus que o leite que possui, que é seu alimento, foi dado pelo Pai.
Finalizando
este texto, temos Maria fazendo de seus braços, o leito de seu filho criança, muito
semelhante ao que fará anos mais tarde, portando no colo seu corpo inerte.
Maria,
a Mãe, a que sempre ofertou seu Filho ao Pai, para nossa salvação!