PAZ, JUSTIÇA E QUESTÕES ÉTICAS: A MEDIAÇÃO DA SANTA SÉ NO MUNDO DE HOJE
Cidade do Vaticano, 27 nov (RV) - Bento XVI receberá em audiência neste sábado
– como já noticiado – as presidentes do Chile e da Argentina, Michelle Bachelet Jeria
e Cristina Fernández de Kirchner, respectivamente, para celebrar o 25º aniversário
do Tratado de Paz e Amizade entre os dois países; seis anos após a mediação pontifícia
que evitou um conflito entre as duas nações. A Rádio Vaticano procurou saber do observador
permanente da Santa Sé no escritório da ONU em Genebra, na Suíça, o arcebispo Dom
Silvano Maria Tomasi, qual diferencial a Igreja pode oferecer para favorecer o caminho
do diálogo no mundo de hoje:
Dom Silvano Maria Tomasi:- "O diferencial
que a Santa Sé oferece é substancialmente uma visão da pessoa humana que transcende
os confins dos Estados e os confins dos interesses e abre à solidariedade e à capacidade
de reconhecer-nos todos como membros da mesma família humana. Trata-se da mensagem
de fraternidade, da mensagem de solidariedade que é projetada do ensino da Doutrina
social da Igreja, do comportamento das Igrejas, também locais, que sempre buscam transcender
a si mesmas para alargar o alcance a toda a família humana, é a fonte da credibilidade
da Igreja e da Santa Sé no intervir em situações difíceis. A meu ver – continua Dom
Tomasi – há também outro aspecto que devemos levar em consideração, essa capacidade
de mediação que a Santa Sé pode oferecer: trata-se do trabalho diário que as nunciaturas
fazem, o trabalho que se faz no contexto internacional. Portanto, o papel substancial
da presença da Santa Sé é defender a dignidade da pessoa humana. É um ponto de partida,
uma espécie de plataforma sobre a qual se rege todo o sistema das relações internacionais."
P.
Bento XVI recorda-nos em sua última encíclica – Caritas in veritate
– que num tempo de globalização é necessário também e, sobretudo, promover um desenvolvimento
integral da pessoa, bem como dos povos. Também nesse sentido há uma capacidade de
proposta peculiar da Igreja?
Dom Silvano Maria Tomasi:- "Torna-se
quase um refrão – nos pronunciamentos que procuramos fazer no contexto internacional
– dizer que se quisermos realmente salvaguardar o bem-estar de todos, portanto, dos
países ricos e pobres, das várias categorias de pessoas, dos vários grupos étnicos,
é preciso que concebamos que o desenvolvimento não se limita à dimensão econômica
ou à dimensão técnica, mas inclui os valores fundamentais das pessoas, como a espiritualidade,
o sentido da criatividade... Essa proposta que a Santa Sé faz não se fecha a uma dimensão
única do desenvolvimento, mas vai além da tecnologia e da economia para dizer que,
se quisermos trazer o bem-estar, devemos levar em consideração aquilo que realmente
faz com que as pessoas se empenhem, sejam responsáveis. Existe uma riqueza, um patrimônio
muito rico não somente de idéias, mas de experiências e boas práticas que temos em
nossa tradição cristã, que podemos colocar a serviço de toda a família humana e que
é o caminho para se chegar realmente a esse desenvolvimento integral." (RL)