(27/11/2009) Queridos irmãos e irmãs A celebração do Dia Mundial do Migrante e
do Refugiado oferece-me novamente a ocasião de manifestar a solicitude constante
que a Igreja alimenta por aqueles que vivem, de vários modos, a experiência da
emigração. Trata-se de um fenómeno que, como escrevi na Encíclica Caritas in
veritate, impressiona pelo número de pessoas envolvidas, pelas problemáticas sociais, económicas,
políticas, culturais e religiosas que levanta, pelos desafios dramáticos que apresenta às
comunidades nacionais e internacional. O migrante é uma pessoa humana com direitos fundamentais
inalienáveis que devem ser respeitados sempre e por todos (cf. n. 62). O tema deste ano,
«Os migrantes e os refugiados menores», refere-se a um aspecto que os cristãos
avaliam com grande atenção, recordando-se da admoestação de Cristo, que no juízo
final considerará referido a Ele mesmo tudo o que é feito ou negado «a um só destes
pequeninos» (cf. Mt 25, 40.45). E como não considerar entre os «pequeninos»
também os migrantes e refugiados menores? O próprio Jesus, quando era criança,
viveu a experiência do migrante porque, como narra o Evangelho, para fugir às ameaças
de Herodes, teve que se refugiar no Egipto juntamente com José e Maria (cf. Mt
2, 14). Embora a Convenção dos Direitos da Criança afirme com clareza que deve
ser sempre salvaguardado o interesse do menor (cf. art. 3), ao qual se devem reconhecer
os direitos fundamentais da pessoa ao mesmo nível do adulto, infelizmente na realidade
isto não acontece. Com efeito, enquanto aumenta na opinião pública a consciência
da necessidade de uma acção pontual e incisiva em protecção dos menores, de facto
muitos são abandonados e, de vários modos, encontram-se em perigo de exploração.
Da condição dramática em que eles vivem fez-se intérprete o meu venerado Predecessor,
João Paulo II, na mensagem enviada a 22 de Setembro de 1990 ao Secretário-Geral
das Nações Unidas, por ocasião do Encontro Mundial para as Crianças. «Sou testemunha
– ele escreveu – da condição lancinante de milhões de crianças de todos os continentes.
Elas são mais vulneráveis, porque menos capazes de fazer ouvir a sua voz» (Insegnamenti
XIII, 2, 1990, pág. 672). Formulo votos de coração para que se reserve a justa atenção
aos migrantes menores, necessitados de um ambiente social que permita e favoreça o
seu desenvolvimento físico, cultural, espiritual e moral. Viver num país estrangeiro
sem pontos de referência efectivos cria-lhes, especialmente àqueles que estão desprovidos
do apoio da família, inúmeros e por vezes graves incómodos e dificuldades. Um
aspecto típico da migração de menores é constituído pela situação dos jovens nascidos nos
países receptores, ou então por aquela dos filhos que não vivem com os pais emigrados depois
do seu nascimento, mas que se reúnem a eles sucessivamente. Estes adolescentes fazem parte
de duas culturas, com as vantagens e as problemáticas ligadas à sua dúplice pertença, condição
esta que todavia pode oferecer a oportunidade de experimentar a riqueza do encontro entre
diferentes tradições culturais. É importante que lhes seja oferecida a possibilidade
da frequência escolar e da sucessiva inserção no mundo do trabalho, e que seja
facilitada a integração social graças a oportunas estruturas formativas e sociais.
Nunca se esqueça que a adolescência representa uma etapa fundamental para a formação
do ser humano. Uma categoria particular de menores é a dos refugiados que pedem
asilo, fugindo por vários motivos do próprio país, onde não recebem uma protecção
adequada. As estatísticas revelam que o seu número está a aumentar. Por conseguinte,
trata-se de um fenómeno que deve ser avaliado com atenção e enfrentado com acções
coordenadas, com oportunas medidas de prevenção, de salvaguarda e de acolhimento,
segundo quanto prevê também a própria Convenção dos Direitos da Criança (cf. art.
22). Dirijo-me agora particularmente às paróquias e às muitas associações católicas
que, animadas por um espírito de fé e de caridade, envidam grandes esforços para
ir ao encontro das necessidades destes nossos irmãos e irmãs. Enquanto exprimo
gratidão por quanto se está a realizar com grande generosidade, gostaria de convidar
todos os cristãos a tomar consciência do desafio social e pastoral que apresenta
a condição dos menores migrantes e refugiados. Ressoam no nosso
coração as palavras de Jesus: «Era peregrino e recolhestes-me» (Mt 25, 35),
assim como o mandamento central que Ele nos deixou: amar a Deus com todo o coração,
com toda a alma e com toda a mente, mas unido ao amor ao próximo (cf. Mt 22,
37-39). Isto leva-nos a considerar que cada uma das nossas intervenções concretas
deve nutrir-se antes de tudo de fé na acção da graça e da Providência divina. De
tal modo, também o acolhimento e a solidariedade para com o estrangeiro, especialmente
se se trata de crianças, torna-se anúncio do Evangelho da solidariedade. A Igreja
proclama-o, quando abre os seus braços e trabalha para que sejam respeitados os
direitos dos migrantes e dos refugiados, estimulando os responsáveis das Nações, dos
Organismos e das Instituições internacionais, a fim de que promovam iniciativas oportunas em
seu benefício. Vele materna sobre todos a Bem-Aventurada Virgem Maria, e ajude-nos
a compreender as dificuldades daqueles que estão distantes da própria pátria. A
quantos estão empenhados no vasto mundo dos migrantes e refugiados, asseguro a
minha oração e concedo de coração a Bênção Apostólica. Vaticano, 16 de Outubro
de 2009.