ARGENTINA - CHILE: RECORDANDO A MEDIAÇÃO PONTIFÍCIA
Cidade do Vaticano, 25 nov (RV) - Bento XVI receberá em audiência, sábado próximo,
as presidentes do Chile, Michelle Bachelet e da Argentina, Cristina Kirchner. O evento
celebra os 25 anos da assinatura do “Tratado de paz e amizade” entre os dois países,
levado a bom êxito através da mediação diplomática pontifícia, que, em 1978, resolveu
uma controvérsia entre Chile e Argentina.
O Cardeal Antonio Samoré, artífice
desta mediação, teve entre seus colaboradores mais próximos o atual núncio apostólico
da Grã-Bretanha, Dom Faustino Sainz Muñoz, que entrevistamos:
R. – Creio que
a Argentina e o Chile queriam evitar o abismo da guerra, porque certamente não desejavam
a guerra, mas se viram de certa maneira “conduzidos” à beira deste precipício! Assim,
tiveram a boa idéia de pedir ao Santo Padre, a João Paulo II, a possibilidade que
os ajudassem a achar uma solução melhor. O Santo Padre decidiu enviar o Cardeal Samorè
no Natal de 78, para que ele visse, como mediador, as possibilidades existentes para
uma via pacífica de solução da controvérsia. Então, os dois países se mantiveram por
seis anos nessa atitude de escuta confiante diante das propostas do Santo Padre, através
do Cardeal Samorè, pacientemente, até chegar à feliz solução com a assinatura do Tratado
de paz e amizade, feita em 29 de novembro de 1984. Creio que, de um lado, o elemento
fundamental foi o compromisso da Santa Sé, de João Paulo II, através do Cardeal Samorè,
e, ainda, a paciência da Santa Sé, do próprio Cardeal Samorè, e dos dois países no
seguimento das indicações dadas.
P. – Do risco de uma guerra à cooperação
e à integração: passaram-se exatamente 25 anos que o Chile e a Argentina assinaram
um acordo de paz e de amizade. Confirmava-se, então, quanto havia dito João Paulo
II no início desta mediação, ou seja, que a paz daria muitos frutos para todos, para
chilenos e argentinos...
R. – Isso é evidente! Foi o que pude constatar semana
passada. Estive em Santiago do Chile para participar de uma comemoração dos 25 anos
da assinatura do Tratado, organizada pela Pontifícia Universidade Católica do Chile
e pela nunciatura apostólica em Santiago. Intervim na primeira missão do Cardeal Samorè
e também ajudei durante todo o itinerário da mediação, e, em minha recente visita,
pude verificar como se cumpriu realmente a profecia do Santo Padre. O Tratado incluía
muitas cláusulas de colaboração, de integração de todo tipo. Tenho que dizer que estas
cláusulas foram cumpridas de maneira incrível. Em ambos os países vi que estão muito
contentes e posso dizer que a relação entre os dois países definitivamente mudou:
a situação atual nada tem a ver com o clima que se respirava em dezembro de 78, que
era um clima de guerra, de desconfiança. Hoje não há mais desconfiança, mas integração
quase que total. A prova disso é que, recentemente, os dois países assinaram um novo
tratado que é fruto do que foi celebrado há 25 anos.
P. – A mediação na zona
sul da América Latina demonstrou que, em toda controvérsia, o diálogo não prejudica
os direitos das partes, mas, ao invés disso, amplia as possibilidades de compor ou
resolver as divergências. Quais lições podemos tirar hoje do evento passados 30 anos?
R. – A lição mais importante é que com o diálogo pode-se resolver qualquer
problema entre as partes, porque, com o diálogo, os respectivos direitos podem ser
melhor identificados. Às vezes consideram-se direitos algumas aspirações que não correspondem
a esta categoria de direito, mas com o diálogo pode-se chegar a uma melhor compreensão
dos direitos de ambas as partes, chegando-se evidentemente a uma solução justa, pacífica
e satisfatória para todos. Foi exatamente este o caso da solução achada para o conflito
na região sul da América Latina. E creio que isto também seja possível para outras
questões que, atualmente, possam dividir países irmãos. Por exemplo, na América do
Sul não faltam hoje problemas que possam ser bem resolvidos através do diálogo, e
não através de ameaças, como se ouve algumas vezes. (RD)