PAPA AOS ARTISTAS: SEJAM ANUNCIADORES E TESTEMUNHAS DE ESPERANÇA PARA A HUMANIDADE
Cidade do Vaticano, 21 nov (RV) - Na manhã deste sábado, Bento XVI abriu as
portas da Capela Sistina a mais de 250 artistas de todo o mundo, entre pintores, escultores,
arquitetos, atores, diretores, músicos e escritores. O Brasil foi representado pelo
pianista Álvaro Siviero.
O encontro se deu por ocasião dos dez anos da carta
aos artistas de João Paulo II e dos 45 anos do histórico encontro de Paulo VI com
o mundo da arte.
No início do seu discurso, Bento XVI afirmou que, em continuidade
com os predecessores, deseja expressar e renovar a amizade da Igreja com o mundo da
arte – uma amizade consolidada no tempo: "Esta amizade deve ser continuamente promovida
e alimentada, para que seja autêntica e fecunda, adequada aos tempos e que tenha presente
as situações e as mudanças sociais e culturais. (...) A todos os artistas, o meu convite
à amizade, ao diálogo e à colaboração".
"Nós necessitados dos artistas": citando
Paulo VI, o papa recordou que o mesmo encontro, 45 anos atrás, também se realizou
na Capela Sistina, "santuário de fé e de criatividade humana", "tesouro singular de
memórias". E lembrou que sua eleição à Cátedra de Pedro se realizou ali, momento que
viveu com "trepidação e absoluta confiança no Senhor".
Falando das obras-primas
que adornam a Capela, Bento XVI falou do Juízo Universal, de Michelângelo, que recorda
que, de um lado, "a história da humanidade é movimento de ascensão e, de outro, coloca
diante dos nossos olhos o perigo da queda definitiva do homem. O afresco, portanto,
lança um forte grito profético contra o mal, contra qualquer forma de injustiça; mas,
ao mesmo tempo, nos convida a percorrer com alegria, coragem e esperança o itinerário
da vida.
O momento atual, analisou o papa, é marcado infelizmente por fenômenos
sociais e econômicos negativos, mas também por um enfraquecimento da esperança, por
uma certa desconfiança nas relações humanas, por isso crescem sinais de resignação,
de agressividade e de desespero.
Somente a beleza pode oferecer novamente entusiasmo
e confiança – afirmou Bento XVI. A experiência do belo autêntico não é efêmero nem
superficial, não distancia da realidade, mas, pelo contrário, leva a um confronto
cerrado com a vivência cotidiana. Platão já dizia que uma função da beleza é "sacudir"
o homem, fazê-lo sair de si mesmo. "A arte é feita para turbar, enquanto a ciência
conforta" – falava Georges Braque.
Todavia, acrescentou o pontífice, a beleza
hoje é passada como ilusória, superficial, que aprisiona o homem em si mesmo e o torna
ainda mais escravo, sem esperança e alegria. Mas a beleza é o contrário de tudo isso,
ela pode se tornar um caminho rumo ao Transcendente, pode assumir um valor religioso
e transformar-se em um percurso de profunda reflexão interior e de espiritualidade.
Prova disso são as inúmeras obras de arte, que comprovam a afinidade e a sintonia
entre percurso de fé e itinerário artístico.
"O caminho da beleza nos conduz,
portanto, a colher o Tudo no fragmento, o Infinito no finito, Deus na história da
humanidade."
Bento XVI então dirigiu um apelo aos artistas: "Vocês são guardiães
da beleza; graças ao seu talento, vocês têm a possibilidade de falar ao coração da
humanidade, de tocar a sensibilidade individual e coletiva, de suscitar sonhos e esperanças,
de ampliar os horizontes do conhecimento e do empenho humano. Sejam, por meio da arte,
anunciadores e testemunhas de esperança para a humanidade".
O pontífice pediu
aos artistas que não tenham medo de se confrontarem com a fonte primeira e última
da beleza, de dialogarem com a Igreja: "A fé não infere em nada em seu gênio, em sua
arte; pelo contrário, os exalta e os nutre".
Como fez Paulo VI, Bento XVI se
despediu dos artistas com um "até logo". (BF)