Cidade do Vaticano, 17 nov (RV) - Redes católicas de desenvolvimento que integram
a aliança de agências humanitárias, CIDSE, e a Caritas Internacional, escreveram ontem
uma carta manifestando o seu desapontamento em relação à Cúpula da FAO sobre segurança
alimentar. “Embora constate que o número de famintos no mundo continue a crescer,
a Cúpula fracassou ao não produzir uma agenda concreta para combater este aumento”
– afirmam, recordando que a Declaração de intentos do encontro foi publicada já no
primeiro dia.
“Realizar a Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar agora foi
extremamente importante para atrair a atenção política e pública para a questão da
fome no mundo. Mas o resultado da Declaração não traz nada de concreto e muitas das
suas afirmações são imprecisas e abertas a interpretações” – disse Alicia Kolmans,
membro da agência alemã Misereor.
“A Declaração reafirma a necessidade de
investir na agricultura de pequena escala, mas não constam propostas sobre como fazê-lo,
e nenhum dos líderes se comprometeu em mobilizar fundos nos próximos cinco anos” –
declara Bob van Dillen, da Cordaid, membro holandês das redes Caritas e CIDSE.
Michael
O Brien 'de Trocaire, membro irlandês das redes CIDSE e Caritas, observa que “há um
claro consenso entre todos os interessados sobre o fato que a agenda de liberalização
promovida nas últimas décadas pelo Banco Mundial e por outros atores fracassou categoricamente,
e que existe a necessidade real de fortalecer a participação dos agricultores na formulação
e implementação das políticas concordadas”.
Para Ambroise Mazal, da CCFD,
representação francesa na rede, “se a comunidade internacional é séria a respeito
do investimento na agricultura de pequena escala nos países em desenvolvimento, deve
se comprometer em trabalhar com agências e atores que tenham história e capacidade
para trabalhar com os pequenos agricultores”.
Também Alberta Guerra, da organização
italiana FOCSIV, mostrou-se desiludida: “Os governos reconheceram no ano passado a
necessidade de melhorar a governança global de alimentos, e o primeiro passo importante
foi feito com o acordo sobre a reforma da Comissão sobre Segurança Alimentar, há algumas
semanas. Todos os interessados devem investir juntos nesta Comissão e assegurar mudanças
políticas reais e o respeito dessas políticas”.
Por outro lado, CIDSE e Caritas
apreciaram o discurso do papa na Cúpula. Em seu pronunciamento, Bento XVI disse que
o direito à comida ocupa um lugar importante dentre os direitos humanos, que começam
fundamentalmente com o direito à vida. “Solidariedade com os países pobres e envolvimento
com as comunidades locais são necessários para promover o desenvolvimento sustentável
da agricultura” - afirmou. A ausência de um calendário concreto e objetivos quantificáveis
na declaração final gerou críticas do próprio diretor-geral da FAO, Jacques Diouf,
que se disse insatisfeito com o fato de não se ter chegado a um compromisso sobre
prazos, termos, quantidade e condições das ajudas para erradicar a fome no mundo.
(CM)