A dois anos da Carta do Papa aos católicos chineses, o card. Bertone escreve aos padres
da China, a propósito do Ano Sacerdotal
(17/11/2009) Prosseguir no caminho da reconciliação no interior da comunidade católica
e do diálogo com as autoridades civis: esta a exortação dirigida pelo cardeal Secretário
de Estado, Tarcísio Bertone, aos padres da Igreja Católica na República popular chinesa.
Numa Carta por ocasião do Ano Sacerdotal, o purpurado convida os presbíteros chineses
a seguirem o exemplo do Santo Cura d’Ars, que “soube dialogar com todos, porque foi
um homem de oração”. O cardeal Bertone refere também os frutos da Carta que, em Maio
de 2007, o Papa dirigiu à Igreja chinesa. “Estamos ainda mais em tempo de semear
do que de colher”: são palavras do Padre Mateus Ricci, citadas pelo Secretário de
Estado do Vaticano, para indicar a situação da Igreja na China, a dois anos da Carta
de Bento XVI aos católicos chineses. Ainda não chegou o momento de fazer um balanço
definitivo – sublinha. E contudo, “não obstante as dificuldades que subsistem, informações
provenientes de diversas partes da China constituem sinais de esperança”. O cardeal
Bertone convida, portanto, os padres chineses a actuarem a favor da reconciliação
no interior da comunidade católica” e de “um diálogo respeitoso e construtivo com
as autoridades civis, sem renunciar aos princípios da fé católica”. Para enfrentar
a actual situação eclesial e sociopolítica – observa o cardeal Bertone – e para prosseguir
no caminho da reconciliação e do diálogo, é urgente para cada um de vós encontrar
luz e força nas fontes da espiritualidade – o amor de Deus e o seguir incondicionado
de Cristo. “É possível que algum de vós tenha ficado surpreendido com a Carta do Papa
à Igreja na China” – escreve ainda o cardeal Secretário de Estado, que assegura os
padres chineses de que “a Santa Sé está ao corrente da complexa e difícil situação”
em que eles se encontram. E são precisamente “os novos desafios que o Povo chinês
deve enfrentar no início do Terceiro Milénio” a exigir que os padres se abram “confiadamente
ao futuro, continuando a procurar viver integralmente a fé cristã”. O Cardeal
Bertone convida os sacerdotes e os fiéis chineses a anunciarem Cristo, não obstante
constituam um pequeno rebanho que vive lado a lado de pessoas que têm uma atitude
de indiferença, se não mesmo de aversão em relação a Deus e à religião”. Neste sentido,
o purpurado fornece mesmo aos padres algumas sugestões concretas: visitar as famílias
católicas e não católicas nas aldeias, incrementar os esforços para organizar reuniões
em que os católicos possam convidar os parentes e amigos não católicos para que possam
conhecer melhor a Igreja e a fé cristã. Aponta também a Eucaristia e a Palavra de
Deus como o binómio fundamental para um forte testemunho evangélico. Em especial,
sublinha que a Eucaristia é “sacramento da comunhão”. “Uma comunidade verdadeiramente
eucarística não pode fechar-se sobre si mesma, como se fosse auto-suficiente, mas
deve manter-se em comunhão com todas as outras comunidades católicas” – observa. Cada
celebração da Eucaristia postula a união “não só com o próprio bispo, mas também com
o Papa, com todo o Povo de Deus”.
Neste contexto, o cardeal Bertone encoraja,
pois, os padres chineses a seguirem as pegadas do Cura de Ars. João Maria Vianney
– lê-se na Carta – “soube dialogar com todos, porque foi um homem de oração: a arte
do diálogo, a qualquer nível que seja, aprende-se no diálogo com Deus, em oração contínua
e sincera”. Dirige-se então aos Bispos chineses convidando-os a cuidar da formação
permanente do clero e a promover uma pastoral a favor das vocações sacerdotais. E
também a encontrar frequentes ocasiões para contactos pessoais com os sacerdotes.
O cardeal Bertone exorta finalmente os prelados a prodigalizarem-se a bem da
reconciliação espiritual dos corações, em particular através da utilização de instrumentos
de comunhão e de colaboração no interior da comunidade católica diocesana. A Carta
conclui fazendo votos de que a vida dos padres chineses seja “cada vez mais guiada
por aqueles ideais de total doação a Cristo e à Igreja, que inspiraram o pensamento
e a acção do Santo Cura de Ars”.