Cidade do Vaticano, 14 nov (RV) - A semana que está se concluindo foi marcada
aqui em Roma por um evento acadêmico de particular importância para a nossa memória
histórica, considerada a sua pertinência no que diz respeito a uma página singular
do Brasil em seu alvorecer.
Trata-se do simpósio realizado esta quinta-feira
na sede da nossa embaixada junto ao governo italiano, dedicado ao beato José de Anchieta
– cognominado "Apóstolo do Brasil".
Efetivamente, o evento – promovido pela
embaixada do Brasil junto à Santa Sé em parceria com o "Programa Brasileiro" da Rádio
Vaticano – teve a finalidade de reavivar a memória histórica do nosso país, passados
412 anos da morte de Anchieta.
Considerando o breve espaço de que dispomos
e a finalidade a que se propôs o evento, gostaria de ater-me à observação de um dos
promotores do simpósio, que oportunamente afirmou: "a memória dos povos é curta, e
é importante que sejamos capazes de recuperá-la".
É verdade, "a memória dos
povos é curta", e falar de Anchieta não se trata apenas de trazer à memória a epopéia
de um religioso que, impelido pelo ardor missionário, se embrenhou nas matas de um
Brasil selvagem e muitas vezes hostil para evangelizar os nativos do "Novo Mundo".
Estamos
falando de um homem de cuja envergadura – que por sua vida e obra – merece o lugar
reservado aos grandes da nossa história; e refiro-me não somente ao capítulo eminentemente
reservado à evangelização do Brasil e à fundação da cidade de São Paulo por obra dos
jesuítas.
Portanto, em nosso esforço de recuperar a memória histórica trata-se
não somente de recordá-lo, mas também de atribuir-lhe o lugar que lhe faz jus.
A
bem pensar, são poucas as recordações que os livros didáticos de história nos reservaram
do Apóstolo do Brasil, mas quem não se lembra da célebre imagem do jesuíta de pé numa
praia deserta a escrever versos na areia?
Ao tentarmos recuperar essa página
da nossa história, é oportuno recordar que a epopéia protagonizada por Anchieta em
nossas terras, para além da eminente figura de missionário, catequista, evangelizador
– o que era natural da sua identidade de religioso – vale ao filho das Canárias o
reconhecimento de um grande educador, pedagogo, sociólogo, dramaturgo, antropólogo,
historiador, escritor, poeta e, não por último, diplomata – considerada a relevante
obra de pacificação realizada em meio aos tamoios e tupis.
Mas vale, sobretudo,
pelo atestado de luminoso exemplo de virtudes heróicas, o imperioso reconhecimento
de sua santidade: é isso mesmo... reconhecer no beato Anchieta o homem Santo.
A
esse proposto, considero que uma das notáveis contribuições do referido simpósio foi
justamente a sua constatação, de modo sintomático e peremptório, da necessidade de
se redescobrir em Anchieta, sobretudo, o homem Santo.
Nesse sentido, considerando
o Ano Sacerdotal que estamos celebrando e, consequentemente, a recordação de ilustres
sacerdotes que a história nos oferece, creio também oportuno salientar a figura do
Anchieta sacerdote, zeloso pastor de almas, homem que soube – com uma admirável fé
intrépida e inquebrantável – enfrentar as não poucas adversidades encontradas.
Homem
que soube colocar a sua inteligência, coração e melhores energias a serviço do Reino
de Deus, servindo a indígenas, brancos e negros, e a todos os homens mostrando o caminho
do Céu.