(12/11/2009) A 1 de Dezembro de 2007, no Vaticano , durante uma audiência aos participantes
no foro das organizações não-governamentais de inspiração cristã salientou que estas
associações , em estreita colaboração com a Santa Sé, podem oferecer uma solução dos
numerosos problemas e desafios ligados às várias actividades das Nações Unidas e de
outras organizações internacionais e regionais... Gratidão e apreço do Papa.
“Participam neste importante encontro representantes de grupos nascidos nos primórdios
da presença internacional do laicado católico, junto com membros de grupos nascidos
recentemente para responder ao atual processo de integração global. Estão presentes
grupos empenhados de modo particular na defesa dos direitos (advocacy) e outros
dedicados à promoção de projetos de cooperação ao desenvolvimento. Algumas de vossas
organizações são reconhecidas pela Igreja como associações públicas ou privadas de
fiéis, outras compartilham o carisma de determinados institutos de vida consagrada
e outras preferem ter somente um reconhecimento civil e incluem entre os seus membros
pessoas não católicas e também não cristãs. No entanto, todos vós tendes em comum
a paixão pela promoção da dignidade humana. Esta mesma paixão tem inspirado constantemente
a actividade da Santa Sé no seio da comunidade internacional. Assim, o verdadeiro
motivo do presente encontro consiste em expressar a gratidão e o apreço por aquilo
que já estais a realizar em colaboração activa com os representantes pontifícios nas
organizações internacionais. Além disso, este encontro procura promover um espírito
de cooperação entre as vossas organizações e, consequentemente, a eficácia da vossa
actividade conjunta em prol do bem integral da pessoa humana e de toda a humanidade.
Configurar rectamente a vida social. Esta unidade de intenções só pode
ser alcançada através de uma variedade de funções e actividades. Na maior parte dos
casos, a diplomacia multilateral da Santa Sé procura confirmar os princípios fundamentais
da vida internacional, uma vez que a contribuição específica da Igreja consiste em
servir "a formação da consciência na política e ajudar a crescer a percepção das verdadeiras
exigências da justiça e, simultaneamente, a disponibilidade para agir com base nas
mesmas" (Deus caritas est, 28a). Por outro lado, "o dever imediato
de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos fiéis leigos" e no contexto
da vida internacional isto inclui os diplomatas e os membros das Organizações Não-Governamentais
cristãos que "são chamados a participar pessoalmente na vida pública" e a "configurar
de modo recto a vida social, respeitando a sua legítima autonomia e cooperando segundo
as respectivas competências e sob a própria responsabilidade" (Ibid.,
n. 29). O primado jurídico e politico dos direitos humanos. A cooperação
internacional entre os governos em geral, que já sobressaía no final do século XIX
e que aumentou constantemente ao longo do século passado, não obstante a trágica explosão
das duas guerras mundiais, contribuiu de maneira significativa para a criação de uma
ordem internacional mais justa. A este propósito, podemos considerar com satisfação
conquistas como o reconhecimento universal do primado jurídico e político dos direitos
do homem, a adopção de finalidades conjuntas a respeito da fruição integral dos direitos
económicos e sociais por parte de todos os habitantes da terra, os esforços que se
envidam em vista de desenvolver uma economia global justa e, mais recentemente, a
salvaguarda do meio ambiente e a promoção do diálogo intercultural. Ao mesmo tempo,
os debates internacionais muitas vezes parecem caracterizar-se por uma lógica relativista
que tende a considerar como única garantia para a coexistência pacífica entre os povos
a rejeição de admitir a verdade acerca do homem e a sua dignidade, bem como a possibilidade
de uma ética fundamentada no reconhecimento da lei moral natural. Com efeito, isto
levou à imposição de uma noção da lei e da política que, em última análise, cria consenso
entre os Estados um consenso às vezes condicionado por interesses a curto prazo, ou
manipulado por pressões ideológicas como a única base genuína para as normas internacionais.
Os frutos amargos da lógica relativista são tristemente evidentes: pensemos, por
exemplo, na tentativa de considerar como direitos humanos as consequências de determinados
estilos de vida egocêntricos; a falta de interesse pelas necessidades económicas e
sociais das nações mais pobres; o desprezo pelas leis humanitárias; e a defesa selectiva
dos direitos do homem. Faço votos a fim de que o vosso estudo e a vossa reflexão durante
estes dias tenham como resultado a descoberta de formas mais eficazes de tornar a
doutrina social da Igreja mais bem conhecida e aceite no plano internacional. Vos
encorajo a opor ao relativismo a grande creatividade da verdade sobre a dignidade
inata do homem e dos directos que dela se derivam. Por sua vez, isto há-de contribuir
para a formação de uma resposta mais adequada às numerosas problemáticas que estão
a ser debatidas hoje no foro internacional. Sobretudo, ajudará a fazer progredir iniciativas
específicas assinaladas por um espírito de comunhão e de liberdade. Princípios
éticos não “negociáveis. Com efeito, é necessário um espírito de solidariedade
que leve a promover unidos aqueles princípios éticos que pela sua própria natureza
e por ser fundamento da vida social não são negociáveis. Um espírito de solidariedade
imbuído de um forte sentido de amor fraternal leva a um melhor apreço das iniciativas
dos outros e a um desejo mais profundo de cooperar com os mesmos. Graças a este espírito,
sempre que for útil ou necessário, trabalhar-se-á em colaboração com as várias Organizações
Não-Governamentais ou com os representantes da Santa Sé, no devido respeito pelas
suas diferenças de natureza, de finalidades institucionais e de métodos de trabalho.
Além disso, um autêntico espírito de liberdade, vivido na solidariedade, promoverá
a iniciativa dos membros das Organizações Não-Governamentais a criarem uma vasta gama
de novas abordagens e soluções a propósito das questões que Deus deixou ao juízo livre
e responsável de cada um dos indivíduos. Se forem vividos com solidariedade, o pluralismo
e a diversidade legítimos não levarão à divisão nem à competição, mas sim a uma maior
eficácia. As actividades das vossas organizações hão-de de produzir frutos genuínos,
contanto que permaneçam fiéis ao magistério da Igreja, ancorados na comunhão com os
seus pastores e, acima de tudo, com o Sucessor de Pedro, enfrentando com um espírito
de abertura prudente os desafios do momento presente.