Roma, 13 nov (RV) - "José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil" foi o título do
simpósio realizado ontem, na Embaixada do Brasil junto ao Governo Italiano, na Piazza
Navona. A iniciativa foi promovida pela Embaixada do Brasil junto à Santa Sé, em parceria
com o Programa Brasileiro da Rádio Vaticano.
Os conferencistas abordaram diversos
aspectos do Beato: o Anchieta histórico, precursor do chamado "encontro de dois mundos",
o Anchieta jesuíta, "conquistador de almas", e o andamento de seu processo de canonização.
Ao
saudar os presentes, entre os quais os bispos do Regional Sul 1 (Estado de S. Paulo,
em visita ad Limina), o embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Luiz Felipe de Seixas
Corrêa, falou do Beato como um verdadeiro "proto-brasileiro", por ser uma figura chave
na formação do Brasil, "uma peça fundamental para a compreensão deste mosaico que
se foi compondo ao longo dos séculos e que deu origem à cultura brasileira".
O
arcebispo de São Paulo, Card. Odilo Pedro Scherer, falou da fundação da cidade, que
se deu em um contexto religioso, e a influência de Anchieta hoje naquela que se tornou
a maior metrópole da América do Sul.
O responsável pelo Programa Brasileiro
e ex-vice-postulador da causa de canonização de Anchieta, Pe. Cesar Augusto dos Santos,
ofereceu aos presentes um histórico completo da vida do Beato, a partir de seu nascimento,
em uma família cristã em Tenerife, Espanha, até a sua morte, aos 63 anos, em Reritiba,
atual Anchieta, ES.
Já aos 14 anos, José sentia a vocação religiosa e em 1551,
foi admitido como noviço no colégio jesuíta da Universidade de Coimbra, Portugal.
Aos 19 anos, foi enviado ao Brasil como missionário, e no final de 1553 chegou a São
Vicente, SP, onde aprofundou os primeiros contatos com os índios.
Pe. Cesar
ilustrou todo o percurso de vida e santidade de Anchieta, relevando a fundação do
pequeno Colégio São Paulo de Piratininga, em 25 de janeiro de 1554, onde participou
da primeira missa e começou o trabalho de conversão, batismo e catequese dos índios.
Para eles, Anchieta foi médico, sacerdote e educador: cuidava do corpo, da
alma e da mente. Usava o teatro e a poesia na catequese, tornando a aprendizagem um
processo prazeroso.
Aos índios, ensinou português, aprendendo, por sua vez,
o tupi. Anchieta escreveu a "Arte da Gramática da Língua Mais Falada na Costa do Brasil".
Anchieta ganhou a confiança dos índios, e após muitos incidentes, conseguiu pacificar
tamoios, tupinambás e portugueses.
A seguir, o postulador-geral da Companhia
de Jesus, Pe. Anton Witwer, falou da diferença teológica entre beatificação e canonização.
Com a beatificação, explicou o jesuíta, o papa concede um culto litúrgico do beatificado
à Igreja local.
No caso da canonização, ao invés, se trata de um ato de infalibilidade,
com o qual a Igreja declara definitivamente que o canonizado faz parte dos santos
no céu, com a aprovação de um milagre ocorrido depois da beatificação. E o milagre
é o que está faltando no processo do Beato
Para Pe. Witwer, o tempo que espera
a beatificação da canonização é como o tempo do Advento, a ser vivido como momento
de graça: "Sobre a causa de canonização de José de Anchieta, nos encontramos neste
'tempo de advento', e só me resta desejar à Igreja no Brasil o aprofundamento contínuo
da sua confiança em Deus, pedindo a intercessão do Beato José de Anchieta".
Após
a pausa, tomou a palavra a Professora Roseli Santaella Stella, especialista em história
do período da União Ibérica, que falou do Anchieta poeta e escritor. Ao prefeito da
Congregação para o Clero, Cardeal Cláudio Hummes, coube concluir o simpósio, sendo
muito aplaudido pelo público presente na Sala Palestrina.
Ele tratou da atualidade
do beato, explicou a necessidade de evangelizar e propagar a autêntica fé nos dias
de hoje, pedindo aos bispos que divulguem entre os fiéis a santidade de Anchieta.
Dom Cláudio convidou as dioceses a promoverem novenas e peregrinações das relíquias
do Apóstolo do Brasil, despertando, desta forma, o interesse popular e a devoção ao
beato.
O cardeal recordou a bravura de Anchieta como missionário, que adentrava
as florestas em intermináveis peregrinações pelas terras brasileiras, apesar de seus
problemas de saúde.
Na sequencia, o embaixador Luiz Felipe de Seixas Correa
apresentou a leitura do "Poema em Louvor à Virgem Maria", gravação de Marco Ribeiro
da célebre poesia cujos versos foram traçados por Anchieta nas areias das praias.
No
encerramento, o Primaz do Brasil e arcebispo de Salvador, Cardeal Geraldo Magella
Agnelo, apresentou uma relíquia do beato, concedendo a sua benção. (BF/CM)