EL SALVADOR VAI INVESTIGAR ASSASSINATO DE DOM OSCAR ROMERO
São Salvador, 10 nov (RV) - A Igreja Católica expressou satisfação pela decisão
do governo do presidente Mauricio Funes de assumir a responsabilidade do Estado pelo
assassinato do Servo de Deus Oscar Arnulfo Romero, ocorrido em 24 de março de 1980.
Domingo, após celebrar a missa na catedral, o bispo auxiliar de São Salvador,
Dom Gregorio Rosa Chávez, assinalou que com este gesto, suspende-se a iniciativa de
processar o Estado salvadorenho junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH).
Numa audiência da CIDH, sexta-feira em Washington, El Salvador reverteu
sua posição histórica e anunciou que investigará o assassinato do arcebispo Oscar
Arnulfo Romero e acatará o mandato da Comissão.
Reconhecendo plenamente a
autoridade da Comissão, o Estado admite o caráter vinculante do informe e as conclusões
ditadas pela Comissão e compromete-se a efetivar a resolução do organismo interamericano
emitida em abril de 2000, que exige a reparação do dano moral.
A resolução
da Comissão Interamericana solicita a investigação do caso para identificar, julgar
e punir todos os responsáveis pelo crime, assim como revogar a anistia, reparar os
danos e outorgar uma indenização.
Dom Gregorio Rosa Chávez disse esperar que
as decisões tomadas nos próximos meses “concretizem o compromisso assumido e contribuam
para a reconciliação da família salvadorenha”.
“Isso significa que o martírio
do pastor deve ser tratado com respeito, deixando de lado toda intenção de manipular
sua memória. Trata-se de algo sagrado” - disse Dom Chávez. Segundo ele, “para alcançar
a reconciliação, o país necessita do perdão, mas também da verdade, da justiça e da
reparação”.
Dom Oscar Romero, defensor da opção preferencial pelos pobres e
conhecido por denunciar a injustiça social e a repressão militar vigente em El Salvador,
foi assassinado em 24 de março de 1980 por um franco-atirador contratado pela ultra-direita.
Ele estava celebrando uma missa em um hospital de doentes de câncer.
A Comissão da Verdade, encarregada de investigar os crimes de guerra no país,
apontou como mentor intelectual do homicídio o fundador da Aliança Republicana Nacionalista
(Arena), Roberto D'Aubuisson, já falecido. Mas a Lei de Anistia, aprovada um ano após
os Acordos de Paz que puseram fim à guerra civil no país (1980-1992), deixou o crime
na impunidade.
O processo de canonização do Servo de Deus Oscar Arnulfo Romero
segue seu trâmite na Congregação para as Causas dos Santos. (CM)