Cidade do Vaticano, 04 nov (RV) - O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé,
Padre Federico Lombardi, afirmou ontem que o Vaticano considera errada a decisão da
Corte Europeia de Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo, de punir o Estado Italiano
pela presença de crucifixos em escolas.
“É errado e míope querer excluir a
religião da realidade educativa” – ressaltou Pe. Lombardi em declaração à RV e à rede
de televisão pública italiana RAI, divulgada por meio de um comunicado de imprensa.
Ele afirmou também que a Igreja Católica recebe a decisão judicial com “estupor e
amargura”.
A sentença foi emitida em resposta à reivindicação da italiana
Soile Lautsi, que pediu ao colégio de seus filhos que retirasse o crucifixo das salas
de aula por se opor ao princípio de laicismo no qual queria educá-los.
O caso
passou pelo Tribunal Constitucional italiano - que disse não ter jurisdição sobre
o assunto -, por um tribunal administrativo do país e inclusive pelo Conselho de Estado
da Itália, que rejeitou a reivindicação, o que fez com que a questão chegasse a Estrasburgo.
Em
2006, a Justiça italiana arquivou o caso e Soile recorreu à corte europeia. Ontem,
em comunicado, o órgão justificou sua decisão afirmando que “a presença de crucifixos
poderia ser interpretada por alunos de todas as idades como um sinal religioso; eles
sentiriam como se estivessem sendo educados em um ambiente escolar que carrega a marca
de determinada religião”. Segundo o Tribunal europeu, a presença do símbolo poderia
“causar desconforto para alunos praticantes de outras religiões ou ateus”.
Pe.
Lombardi explicou rebatendo que “o crucifixo sempre foi um sinal de oferta do amor
de Deus e de união e acolhida para toda a humanidade. Lamento que seja considerado
como um sinal de divisão, de exclusão ou de limitação da liberdade”.
“Surpreende
que uma corte europeia intervenha de um modo tão profundo em uma matéria fundamentalmente
ligada à identidade histórica, cultural e espiritual do povo italiano” – continuou
o representante da Santa Sé, acrescentando que “não é por este caminho que se atrai
a amar e compartilhar mais a ideia europeia, que como católicos italianos, defendemos
firmemente desde as suas origens. A religião da uma contribuição preciosa à formação
e ao crescimento moral das pessoas, e é um componente essencial da nossa civilização”
– completou.
Entretanto, o governo italiano informou que vai recorrer da decisão.
A ministra da Educação, Mariastella Gelmini, alegou que o crucifixo é um símbolo da
tradição do país: “Ninguém quer impor a religião católica, muito menos com o crucifixo”.
O ministro de Relações Exteriores, Franco Frattini, disse que a Corte deu
um “golpe mortal em uma Europa de valores e direitos”, acrescentando que isso é um
mau precedente para outros países.
A Itália é uma das nações com população
mais católica no mundo. Mais de 96% dos cristãos do país – que chegam a 80% da população
– se definem católicos. A exposição de crucifixos em escolas se tornou obrigatória
com duas leis datadas de 1920 – mas, desde 1984, quando o catolicismo deixou de ser
a religião oficial, têm sido cumpridas com menos rigor.
O Programa Brasileiro
interpelou o bispo de Santo André, SP, Dom Nelson Westrupp, que se encontra em Roma,
como Presidente do Regional Sul 1 do Brasil. Os bispos do Estado de São Paulo iniciam
dia 6 a visita ad Limina ao Santo Padre e à Cúria Romana. Cristiane Murray colheu
o seu comentário sobre esta sentença inédita da Corte Européia: