2009-10-28 11:48:17

NA AUDIÊNCIA GERAL, PAPA FALA DO RENASCIMENTO DA TEOLOGIA LATINA


Cidade do Vaticano, 28 out (RV) - A fé e a razão, quando se encontram em respeitoso diálogo entre si, são como asas com as quais "o espírito humano se eleva rumo à contemplação da verdade". A afirmação de João Paulo II foi retomada por Bento XVI na conclusão da audiência geral desta manhã, realizada na Praça São Pedro.

O papa dedicou a sua catequese aos dois modelos de teologia – monástica e escolástica – que se firmaram no Séc. XII na Europa, graças a uma feliz conjuntura social e cultural. E convidou os cristãos a fazerem tesouro dessa rica herança espiritual.

Alimentar a própria existência dos cristãos mediante uma "mais atenta" escuta do Evangelho e das Escrituras, como 800 anos atrás ensinaram os promotores da teologia monástica. E compreender mediante a razão humana, com um "amor que se torna inteligência", horizontes sempre mais vastos do mistério de Deus, como naquele mesmo período ensinaram os teólogos escolásticos.

São as duas heranças fundamentais para os fiéis de hoje que Bento XVI evidenciou falando na audiência geral sobre o florescimento da teologia latina do Séc. XII. Traçando, para a Europa da época, um período de "grande atividade cultural" e de "maior pureza evangélica" dentro da Igreja – favorecida pela reforma gregoriana – o pontífice afirmou o seguinte:

Naquele mesmo contexto "refloresceu também a teologia adquirindo uma maior consciência da própria natureza: afinou o método, enfrentou problemas novos, progrediu na contemplação dos Mistérios de Deus, produziu obras fundamentais, inspirou iniciativas importantes da cultura, da arte à literatura, e preparou as obras-primas do século sucessivo, o século de Tomás de Aquino e de Boaventura de Bagnoregio".

O pontífice explicou às mais de 30 mil pessoas que o ouviam as diferenças de método sobre os quais monges, de um lado, e cultos pastores, de outro, desenvolveram naquela estação medieval o seu respectivo modo de fazer teologia.

O modo monástico – assim chamado porque nascido nos mosteiros – estava ligado "principalmente à explicação da sagrada página, à lectio divina, ou seja, à leitura rezada da Bíblia – ressaltou:

"Para eles a simples leitura do Texto não bastava para perceber o seu sentido profundo, a unidade interior e a mensagem transcendente. Portanto, era necessário praticar uma "leitura espiritual", conduzida em atitude dócil ao Espírito Santo. Na escola dos Padres, a Bíblia era assim interpretada alegoricamente, para descobrir em cada página, do Antigo bem como do Novo Testamento, o que diz Cristo e a sua obra de salvação."

Portanto, os monges da época eram preparados não somente do ponto de vista espiritual, mas também do ponto de vista literário do texto bíblico. Para eles, fazer teologia equivalia a escutar a Palavra divina purificando o coração que devia acolhê-la, numa constante meditação que desembocava no louvor a Deus. Bento XVI acrescentou que essa dinâmica constitui também para nós, hoje, um convite:

Um convite "a alimentar a nossa existência com a Palavra de Deus, por exemplo, mediante uma escuta mais atenta das leituras e do Evangelho especialmente na Missa dominical. Ademais, é importante reservar um certo tempo, todos os dias, para a meditação da Bíblia, para que a Palavra de Deus seja lâmpada que ilumina o nosso caminho cotidiano sobre a terra."

Por outro lado, o papa observou que, por sua vez, a teologia escolástica – nascida justamente nas escolas, que depois se tornaram as primeiras universidades – era cultivada por verdadeiros "profissionais da cultura", pesquisadores que desejavam ardentemente "mostrar a racionalidade e o fundamento dos mistérios de Deus", "aceitos com a fé", mas "compreendidos também pela razão":

Nesse sentido, "a teologia escolástica buscava apresentar a unidade e a harmonia da Revelação cristã com um método, justamente chamado "escolástico", da escola, que dá confiança à razão humana (...) ainda hoje, lendo as sumas escolásticas, fica-se impressionado com a ordem, a clareza, a concatenação lógica dos temas, e com a profundidade de algumas intuições".

Explicando o articulado procedimento da teologia escolástica – que partindo de um tema central confrontava as várias teses até se chegar a uma suma, isto é, a uma síntese "entre autoridade e razão", o Santo Padre observou o seguinte:

Que tal teologia "nos recorda que entre fé e razão existe uma amizade natural, fundada na própria ordem da criação (...) A fé está aberta ao esforço de compreensão por parte da razão; a razão, por sua vez, reconhece que a fé não a mortifica, pelo contrário, a impulsiona rumo a horizontes mais amplos e elevados".

Concluída a sua catequese, o Santo Padre passou a fazer, em diversas línguas, um resumo da mesma, dirigindo-se aos vários grupos de fiéis e peregrinos presentes. Eis o resumo que fez em português de sua catequese, seguida da saudação aos lusófonos:

"Queridos irmãos e irmãs,
 
No século XII, a partir dos mosteiros e das escolas junto das catedrais, desenvolveram-se dois modelos diferentes de teologia: a «teologia monástica» e a «teologia escolástica». A primeira foi desenvolvida pelos monges, devotados ouvintes e leitores orantes da Sagrada Escritura, que procuravam incentivar e nutrir o desejo amoroso de Deus. A teologia escolástica é obra de pessoas cultas, de mestres desejosos de mostrar o caráter razoável e o fundamento dos mistérios de Deus e do homem, que se devem acreditar com a fé, mas também compreender pela razão. Fé e razão, em recíproco diálogo, vibram de alegria quando ambas são animadas pela busca duma união cada vez mais íntima com Deus.
 
Amados peregrinos do Porto e demais pessoas de língua portuguesa, sede bem-vindos! Uma saudação particular ao coro infanto-juvenil de Maringá e aos grupos paroquiais de Santa Cruz, em Belém, e de Nossa Senhora do Carmo, no Rio de Janeiro. Que nada vos impeça de viver e crescer na amizade de Deus. Procurai iluminar o vosso caminho com a Palavra divina, ouvindo-a atentamente na Eucaristia do domingo e reservando alguns momentos em cada dia para a sua meditação. Sobre vós e vossas famílias, desça a minha bênção." RealAudioMP3

Antes que o papa saudasse os fiéis de língua portuguesa, o coro infanto-juvenil de Maringá, PR, entoou a música "Aquarela do Brasil" na Praça S. Pedro: RealAudioMP3

O Santo Padre concluiu a audiência geral concedendo a todos a sua benção apostólica. (BF-RL)







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