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DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DO MALÁVI EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM »


Quinta-feira, 28 de Setembro de 2006

Amados Irmãos Bispos

É-me grato dar-vos as boas-vindas hoje aqui, Bispos do Malávi, por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum, e agradeço-vos as amáveis palavras que me foram dirigidas no vosso nome pelo Arcebispo D. Tarcisius Ziyaye, Presidente da vossa Conferência Episcopal. A vosa visita exprime os profundos vínculos de comunhão e de afecto que unem as vossas Igrejas locais, na África Oriental, à Sé de Roma. Simão Pedro foi exortado a fortalecer os seus irmãos (cf. Lc 22, 32) e a alimentar o rebanho do Senhor (cf. Jo 21, 17), mas também vós fostes escolhidos como líderes e pastores do vosso povo, para o ensinar, santificar e governar em nome do Senhor. Ao venerardes os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, rezo a fim de que, através da sua intercessão, sejais revigorados e alimentados no vosso ministério no meio da população do Malávi, e assim continueis a proclamar impavidamente o Evangelho de Jesus Cristo, que "veio para que tenham vida, e a tenham em abundância" (Jo 10, 10).

A exuberância com que os povos da África louvam a Deus nos seus cultos litúrgicos é mundialmente conhecida, e a Igreja no Malávi não constitui uma excepção. A sua celebração jubilosa manifesta a grande vitalidade das vossas comunidades eclesiais, enquanto reflecte a predominância dos jovens na vossa população. Continuai a orientá-las com autêntica atenção paterna, em vista de uma maior compreensão do seu Senhor crucificado e ressuscitado, oferecendo-lhes sempre uma sólida catequese na fé. Tendo em vista esta finalidade, é importante que os professores e os catequistas recebam uma boa preparação para a sua nobre missão, uma vez que, como sabeis, eles desempenham um papel vital quando se trata de ajudar o Bispo a assumir a sua responsabilidade, como aquele que ensina com a autoridade de Cristo. Por conseguinte, eles deveriam ser bem formados na fé e capazes de comunicar tanto a alegria como o desafio de seguir Cristo. Formulo votos a fim de que a recém-inaugurada Universidade Católica do Malávi possa oferecer uma contribuição significativa neste campo, e encorajo-vos a fazer tudo o que estiver ao vosso alcance, em vista de a enriquecer com recursos suficientes e de manter elevado o nível do ensino, em fidelidade ao magistério da Igreja.

Num mundo dominado por valores seculares e materialistas, pode ser difícil seguir um estilo de vida contracultural, tão necessário no sacerdócio e na vida religiosa. Os clérigos no vosso país, assim como as pessoas que eles servem pastoralmente, às vezes encontram-se em situações de carência, necessitadas dos meios de subsistência para a sua "honesta sustentação... para o exercício de obras de caridade e apostolado" (Presbyterorum ordinis, 17). Estou convicto de que fareis tudo o que estiver ao vosso alcance para suprir às necessidades legítimas dos vossos colaboradores enquanto, ao mesmo tempo, não deixareis de os admoestar contra a preocupação excessiva pelas posses materiais. Ajudai o vosso clero a não cair na armadilha de considerar o sacerdócio um meio de progresso social, recordando-lhes que "a única ascensão no ministério pastoral é a Cruz" (Homilia de Ordenação, 7 de Maio de 2006). Os encarregados pela formação nos seminários têm necessidade de ensinar aos estudantes que o sacerdote está chamado a viver para os outros, e não para si mesmo, à imitação de Cristo, que "não veio para ser serviço, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos" (Mc 10, 45). Sobretudo o exemplo oferecido pelo Bispo, de um ministério verdadeiramente centrado em Cristo, pode servir de inspiração para os seus presbíteros.

Meus queridos Irmãos Bispos, vivei como autênticos seguidores de Cristo e permiti assim que o vosso discipulado constitua o fundamento da autoridade que vós mesmos exerceis. Rezo a fim de que, deste modo, consigais fortalecer os laços de caridade fraterna no seio do presbyterium de cada uma das vossas Igrejas locais.

Alegro-me por observar que vós continuais a exercer o vosso múnus magisterial, comentando questões de interesse social. Com efeito, a vossa Carta Pastoral do Pentecostes, intitulada Renewing Our Lives and Society with the Power of the Holy Spirit, que publicastes no início do corrente ano, chamou a atenção para alguns dos males sociais e morais que estão a atingir o país. A segurança alimentar está ameaçada não apenas pela seca, mas também por uma ineficaz e injusta gestão da agricultura; a propagação da Sida tem aumentado devido ao facto de as pessoas não permanecerem fiéis a um só companheiro/a no matrimónio e não praticarem a abstinência; os direitos das mulheres, das crianças e dos nascituros são cinicamente violados pelo tráfico humano, pela violência doméstica e pelas pessoas que defendem o aborto. Jamais cesseis de proclamar a verdade, insistindo sobre ela "oportuna e inoportunamente" (2 Tm 4, 2), pois "a verdade libertar-vos-á" (Jo 8, 32). O Bom Pastor, que nunca abandona o seu rebanho, vela sobre as suas ovelhas e protege-as sempre. Seguindo este exemplo, continuai a afastar o vosso povo dos perigos que o ameaçam e guiai-o rumo a pastagens seguras. Rezo para que a população preste atenção aos vossos conselhos, de tal modo que a face da terra consiga ser transformada (cf. Sl 104, 30) e o Espírito de Deus possa verdadeiramente conservar a unidade da vossa nação no vínculo da paz (cf. Ef 4, 3).

Ao concluir as observações que vos quis dirigir no dia de hoje, desejo recordar-vos a imagem dos Apóstolos congregados no Cenáculo com Maria, Mãe do Senhor, em oração pela vinda do Espírito Santo, a mesma cena que vós descreveis de maneira tão maravilhosa no parágrafo conclusivo da vossa recente Carta Pastoral. Nesse documento, vós animais o vosso povo a reunir-se para rezar, no seio das suas respectivas famílias e nas pequenas comunidades cristãs. Sei que também vós continuareis a rezar unidos, em comunhão com o clero e os leigos, pelos dons do Espírito à Igreja no vosso país. O Espírito é a energia "que transforma o coração da comunidade eclesial para ser, no mundo, testemunha do amor do Pai, que quer fazer da humanidade uma única família, em seu Filho" (Deus caritas est, 19). Também eu oro para que o Espírito possa ser derramado abundantemente sobre todos vós, e enquanto confio cada um de vós e o vosso clero, os religiosos, as religiosas e os fiéis leigos à intercessão de Maria, Mãe da Igreja, concedo-vos de todo o coração a minha Bênção Apostólica como penhor da graça e da fortaleza em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.







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