2009-10-22 13:43:20

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL REGIONAL DO NORTE DA ÁFRICA (C.E.R.N.A.) EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 9 de Junho de 2007

Queridos irmãos no Episcopado

Sinto-me feliz por vos receber, Pastores da Igreja Católica nos países do Norte de África. Realizando a vossa visita ad Limina, vindes junto dos túmulos dos Apóstolos para reavivar a vossa fé e confirmar os vínculos das vossas Igrejas locais com o Sucessor de Pedro e com a Igreja universal. Agradeço ao Presidente da Vossa Conferência Episcopal, D. Vincent Landel, Arcebispo de Rabat, as suas palavras, que expressam a diversidade dos compromissos da Igreja nos vossos países e o amor das vossas comunidades pela terra onde residem. Regressando às vossas dioceses, transmiti os sentimentos afectuosos do Papa aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis, particularmente aos que estão unidos aos vossos países por vínculos mais estreitos. Saúdo também calorosamente cada um dos povos entre os quais viveis. Deus os abençoe e os ajude a progredir nos seus esforços para edificar uma sociedade mais fraterna e justa.

A diversidade das situações humanas e eclesiais dos vossos países não constitui um obstáculo à fraternidade que vos preocupais por viver na vossa Conferência Episcopal, encontrando nela um apoio apreciável para o vosso ministério, particularmente nas provas que marcaram algumas das vossas Igrejas locais. A vossa unidade é um testemunho verídico prestado ao ensinamento do Senhor: "para que todos sejam um só... e o mundo creia que Tu me enviaste" (Jo 17, 21). Com os sacerdotes das vossas dioceses, que se confrontam com situações que exigem com frequência um grande sentido eclesial e profundas convicções espirituais, assim como uma atenção constante aos numerosos apelos do Espírito, vós assumis corajosamente o serviço do povo que vos está confiado. O Senhor, que vos acompanha todos os dias, seja a força e a alegria do vosso ministério.

O encontro fraterno dos homens e das mulheres entre os quais viveis é um dos temas que vos apraz desenvolver para expressar a missão da Igreja na vossa região. Nesta perspectiva, encorajo-vos vivamente a guiar os fiéis para um encontro autêntico com o Senhor, que os guia ao encontro dos seus irmãos e irmãs, ele que já está misteriosamente presente no coração de cada um e na busca que cada homem faz da verdade e do bem-estar (cf. Ad gentes, 11). Para esta finalidade, como a viveu intensamente o Padre Charles de Foucauld, que as vossas Igrejas diocesanas tiveram a alegria de ver beatificado há alguns meses, possa a Eucaristia ser o centro da vida das vossas comunidades. De facto, tanto na celebração deste grande mistério como na adoração eucarística, que são actos de encontro pessoal com o Senhor, amadurece um acolhimento profundo e verdadeiro do aspecto da missão que consiste em abater as barreiras entre o Senhor e nós, assim como as que nos separam uns dos outros.

Ao longo dos primeiros séculos, as comunidades cristãs da vossa região contribuíram para criar pontes entre as margens do Mediterrâneo. Ainda hoje, São Cipriano, Santo Agostinho e muitas outras testemunhas da fé permanecem referências espirituais, intelectuais e culturais incontestáveis. Actualmente, os membros das vossas comunidades são muito diversificados, quer pela sua origem quer pelo prolongar-se da estadia e pelos motivos da sua presença no Magrebe. Eles dão também uma imagem da universalidade da Igreja, cuja mensagem evangélica se dirige a todas as nações.

Gostaria de saudar particularmente os jovens cristãos da África subsariana que estudam nos vossos países. Que a solidariedade que estabeleceram entre si, com o apoio fraterno dos seus acompanhadores, os ajudem a testemunhar generosamente a sua fé de discípulos de Cristo entre os seus irmãos. O vigor e a autenticidade do testemunho eclesial dos fiéis das vossas dioceses, nas suas famílias, nos lugares de trabalho, de estudo ou habitação, exigem que os Pastores estejam próximos das suas preocupações e lhes dêem a ajuda espiritual necessária. Isto também os fará tomar consciência do significado eclesial da sua presença na sociedade, assumindo as responsabilidades que lhes competem na comunidade. Ao apoiar a sua fé pela celebração dos Sacramentos e por uma sólida formação cristã, assim como pela busca de um olhar evangélico sobre as realidades sociais, culturais e religiosas do país, vós dai-lhes os meios para viver corajosamente as situações muitas vezes difíceis que encontram na existência quotidiana e no trabalho. A qualidade espiritual das comunidades cristãs, fundada na certeza de que o Senhor está sempre presente e que age nelas e por meio delas, é fundamental para lhes permitir dizer a razão da esperança que os anima. Unidos aos seus Pastores, num clima de caridade fraterna, que elas sejam verdadeiramente lugares nos quais se vive a comunhão, como manifestação do amor de Deus por todos os homens.

Nesta perspectiva, o diálogo inter-religioso ocupa um lugar importante na pastoral das vossas dioceses. Como já tive a ocasião de ressaltar, "temos imperativamente necessidade de um diálogo autêntico entre as religiões e as culturas, capaz de nos ajudar a superar juntos todas as tensões, num espírito de colaboração frutuosa" (Discurso aos Embaixadores dos países muçulmanos, 25 de Setembro de 2006). Portanto, alegro-me ao ver que, mediante iniciativas de diálogo e lugares de encontro, como os Centros de estudo e as bibliotecas, estais resolutamente comprometidos no desenvolvimento e aprofundamento das relações de estima e de respeito entre cristãos e muçulmanos, em vista de promover a reconciliação, a justiça e a paz. Por outro lado, na partilha da vida quotidiana, cristãos e muçulmanos podem encontrar a base fundamental de um melhor conhecimento recíproco. Mediante uma participação fraterna nas alegrias e nos sofrimentos uns dos outros, sobretudo nos momentos mais significativos da existência, assim como mediante várias colaborações nos âmbitos da saúde, da educação, da cultura, ou do serviço aos mais humildes, manifestais uma autêntica solidariedade, que reafirma os vínculos de confiança e de amizade entre as pessoas, as famílias e as comunidades.

Entre as grandes questões com as quais a vossa região se confronta, a emigração de pessoas provenientes da África subsariana, que tentam passar o Mediterrâneo para entrar na Europa em busca de uma vida melhor, deve suscitar também colaborações, ao serviço da justiça e da paz. A situação destas pessoas, particularmente preocupante e por vezes dramática, não pode deixar de interpelar as consciências. A ajuda generosa que as vossas Igrejas diocesanas lhes dão constitui uma contribuição para o reconhecimento da sua dignidade e um testemunho prestado ao Senhor. Faço sentidos votos por que os países envolvidos nestas migrações procurem meios eficazes para permitir que todos tenham a esperança de construir um futuro para si mesmos e para os seus familiares, e para que a dignidade de cada pessoa seja sempre respeitada.

Gostaria de ressaltar também a importância da vida consagrada nas vossas dioceses. A dedicação abnegada dos religiosos e das religiosas no seu serviço à população, sem distinção de origem nem de crença, é apreciada por todos. Esta vida totalmente doada, no desapego de si e na liberdade interior, é antes de tudo o testemunho de uma pertença radical a Deus, que suscita o desejo fervoroso de ir ao encontro do próximo, e de modo privilegiado dos mais abandonados. Esta pertença a Cristo assume um significado ainda mais radical no testemunho dos monges e das monjas, que desejo saudar e encorajar de modo particular. A sua vida de oração e de contemplação é uma graça para o conjunto da Igreja na vossa região. A sua fidelidade à população que os acolhe, como demonstrou o impressionante exemplo da comunidade de Tibhirine, é um sinal eloquente do amor de Deus, que desejam manifestar a todos.

A colaboração cada vez maior das vossas dioceses com as Igrejas do Médio Oriente e da África é um testemunho de grande valor para a vossa região, que é um ponto de encontro entre a África, a Europa e o mundo árabe. O desenvolvimento destas relações é também uma concretização efectiva da solidariedade da Igreja em África e no Médio Oriente, com a sua preocupação apostólica em relação à vossa região. O acolhimento de sacerdotes e religiosas, que tendes a preocupação de formar em vista de situações eclesiais muitas vezes diferentes das dos seus países de origem, é para vós um apoio pastoral precioso e, para todos, uma abertura à dimensão universal da missão.

Queridos irmãos no Episcopado, encorajo-vos calorosamente no vosso ministério ao serviço dos povos da vossa região. A exemplo do bem-aventurado Charles de Foucauld, que os cristãos dos vossos países sejam testemunhas credíveis da fraternidade universal que Cristo ensinou aos seus discípulos. Confio as vossas comunidades à protecção materna de Nossa Senhora de África, e de todo o coração vos concedo, assim como aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis das vossas dioceses, uma afectuosa Bênção Apostólica.







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