BENTO XVI: IMPULSIONAR OS VALORES CRISTÃOS, FUNDAMENTO DA EUROPA
Cidade do Vaticano, 19 out (RV) - Bento XVI começou as suas atividades desta
segunda-feira recebendo em audiência, no Vaticano, o chefe da delegação da Comissão
da Comunidade Européia junto à Santa Sé, Yves Gazzo, para a apresentação de suas credenciais.
No
momento em que a Europa celebra o 20º aniversário da Queda do Muro de Berlim, a Europa
deve recorrer a seu patrimônio cristão para olhar com confiança para o futuro: foi
a exortação do Santo Padre a Yves Gazzo, segundo chefe da delegação da Comissão depois
do embaixador Luis Miguel Leitão Ritto.
Em seu denso discurso sobre a identidade
da Europa, o papa ressaltou que a tradição humanista, radicada no Cristianismo, é
a força do Velho Continente.
"A Igreja deseja acompanhar a construção da União
Européia – disse Bento XVI – eis a razão pela qual se permite recordar-lhe quais são
os valores fundadores e constitutivos da sociedade européia, a fim de que eles possam
ser promovidos para o bem de todos."
O papa deteve-se justamente sobre esses
valores que fizeram nascer a Europa e que foram "a força de gravidade que atraiu as
outras nações para o núcleo dos países fundadores".
Esses valores "são o fruto
de uma história longa e tortuosa na qual, ninguém pode negá-lo, o Cristianismo desempenhou
um papel de primeiro plano" – ressaltou o pontífice.
A igual dignidade de todos
os seres humanos, a liberdade religiosa como fundamento de todas as outras liberdades
civis, a paz como elemento decisivo para o bem comum e, ainda, o desenvolvimento humano
como vocação divina são elementos centrais da Revolução cristã que continuam modelando
a civilização européia.
O pontífice precisou que "quando a Igreja evoca as
raízes cristãs da Europa não está procurando um status privilegiado para si mesma".
A
Igreja realiza uma obra de memória histórica, recordando, em primeiro lugar, uma verdade,
"cada vez mais passada em silêncio": a inspiração cristã dos países fundadores da
União Européia.
Bento XVI disse ainda que a Igreja deseja manifestar também
que a base dos valores europeus provém principalmente do patrimônio cristão que ainda
hoje continua alimentando a Europa.
O Santo Padre observou que esses valores
"não constituem um agregado anárquico ou aleatório, mas formam um conjunto coerente
que se coloca e se articula, historicamente, a partir de uma visão antropológica precisa".
Em
seguida, o papa se perguntou: "A Europa pode, por acaso, omitir o "princípio original
de seus valores que revelou ao homem a sua eminente dignidade e a realidade de uma
vocação pessoal" que abre o seu horizonte a todos os homens com os quais é chamada
a constituir uma só família?
Ademais, o pontífice evidenciou o risco que tais
valores sejam instrumentalizados por "indivíduos e grupos de pressão" que queiram
fazer preponderar certos interesses em detrimento de um "projeto coletivo ambicioso
que os europeus esperam" que esteja voltado para o bem comum do continente e do mundo
inteiro.
Bento XVI observou que esse perigo já é "percebido e denunciado por
numerosos observadores" de diferentes segmentos. É importante, então, que a Europa
não abandone o seu modelo de civilização, exortou o papa acrescentando que o seu impulso
original não pode ser "sufocado pelo individualismo ou pelo utilitarismo".
Os
imensos recursos intelectuais, culturais e econômicos do continente "continuarão a
dar frutos" se forem fecundados "pela visão transcendente da pessoa humana que, constitui
o tesouro mais precioso do patrimônio europeu" – prosseguiu.
O pontífice observou
que justamente essa tradição humanista, que pertence a variadas correntes de pensamento,
torna a Europa capaz de enfrentar os desafios do amanhã e de responder às esperanças
dos povos.
Trata-se principalmente da "busca de um justo e delicado equilíbrio
entre a eficácia econômica e as exigências sociais, a salvaguarda do ambiente" e,
sobretudo, "o indispensável e necessário apoio à vida humana – da concepção até a
morte natural – e à família fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher".
"A
Europa não será realmente ela mesma" se não souber conservar a originalidade "que
fez a sua grandeza" e que é capaz de "torná-la, amanhã, um dos atores principais na
promoção do desenvolvimento integral das pessoas que a Igreja Católica considera como
o único modo possível para remediar os desequilíbrios presentes em nosso mundo" –
foi a sua reflexão.
Bento XVI concluiu ressaltando que a Santa Sé tem um grande
respeito pelas atividades das Instituições européias e fez votos de que, através do
seu trabalho, honrem a Europa que é mais que um continente: é "uma casa espiritual".
(RL)