2009-10-15 17:00:17

Intervenção de Dom António Francisco JACA, Bispo de Caxito (ANGOLA)


S. E. R. Dom António Francisco JACA, S.V.D., Bispo de Caxito (ANGOLA)

Intervenção entregue por escrito mas não lida na Aula.



A guerra civil e fratricida que assolou Angola nos últimos trinta anos, para além do seu cortejo de mortes, deixou traumas profundos no nosso povo: milhares de famílias destroçadas e desestruturadas; milhares de viúvas e órfãos, milhares de ex-militares, não suficientemente assistidos e alguns votados ao abandono, e uma grande parte do nosso povo vivendo ainda no limiar da pobreza, etc.

Se por um lado há um investimento significativo, o que é louvável, em vistas a reconstrução das infra-estruturas destruídas pela guerra, por outro lado, pouco ou quase nada ainda se tem feito no sentido de ajudar a reconstruir o tecido humano fortemente ferido pelos longos anos de guerra civil. As consequências já se fazem sentir, sobretudo com o aumento assustadoramente a criminalidade protagonizada por jovens e adolescentes.

É notória hoje a preocupação da sociedade angolana. O desespero vai tomando conta das famílias mais pobres que não têm o necessário para viver e muitos pais já não sabem como educar os seus filhos. As nossas Igrejas e Santuários tornam-se assim, muitas vezes, locais de refúgio, para solicitar ajuda, chorar as penas e procurar uma palavra de consolo. Uma palavra de consolo que as famílias nem sempre encontram, pois, e digo isto com muita tristeza, muitos dos nossos sacerdotes, ocupados em muitas outras coisas, não estão disponíveis para as atender e não prestam a necessária atenção pastoral mormente no sacramento da reconciliação e no ministério da escuta).

O êxodo populacional das aldeias para a cidade, provocou mudanças profundas no modus vivendi das populações. A família, mais uma vez, foi afectada, sobretudo no que diz respeito a educação dos filhos. A título de exemplo: as crianças, sobretudo nas grandes cidades, permanecem sozinhas em casa, enquanto os pais, obrigados a sair de madrugada para o trabalho, deixam os filhos a dormir, e voltando à casa, tarde à noite, os encontram a dormir. Quem cuida destas crianças durante todo o dia? Abandonadas à sua, sorte, têm como companhia outras crianças, a rua, a Televisão etc. Vemos assim, crianças cuidando de outras crianças, educadas na rua, à mercê de tudo e de todos.

Assiste-se também à invasão silenciosa da Televisão na vida das famílias. É inegável a influência negativa nas crianças e jovens de certos programas difundidos pelos canais de televisão nacionais e internacionais: telenovelas, filmes de violência, vídeo-clips, músicas com linguagem imprópria (também largamente difundidas pelas Rádios), exibindo um modus vivendi alheio à nossa realidade, incentivando à violência e outros comportamentos anti-sociais. Também convém aqui assinalar certos conteúdos difundidos via Internet ou via telemóvel por SMS e vídeo mensagens, estes meios modernos de comunicação de que a nova geração faz grandemente uso. Neste último campo são os próprios adolescentes e jovens os protagonistas da transmissão de mensagens indecorosas de uns para outros.

Em muitos bairros da periferia, sobretudo nas grandes cidades, existem "salas" de cinema precárias improvisadas onde crianças e adolescentes "consomem" inocentemente filmes de violência e outros não aconselháveis a menores.








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