Cidade do Vaticano, 14 out (RV) - “As guerras na África não são devidas ao
tribalismo, mas à ânsia das multinacionais de se apropriarem de todas as nossas riquezas”
– disse ontem no Sínodo dos bispos africanos o Cardeal Peter Turkson, arcebispo de
Cape Cost, no Gana.
Dom Turkson, que é o relator do Sínodo, leu ontem à Congregação
a Relação do pós-debate, documento que reúne as intervenções dos 244 prelados, 197
dos quais participam pessoalmente da assembleia.
Segundo o cardeal ganês,
a intenção das multinacionais é apropriarem-se de maneira exclusiva de todas as reservas
estratégicas do continente, como o petróleo e o urânio, e que isso gera conflitos
armados. Logo, defendeu que é necessário um quadro jurídico internacional que garanta
o controle destas empresas e das indústrias extratoras.
Dentre os males da
África, os bispos do Sínodo ressaltaram também o desastre causado pela pandemia da
AIDS, e enquanto alguns, como o próprio Cardeal Turkson, mostraram-se favoráveis ao
uso do preservativo por casais quando um dos cônjuges é soropositivo, outros, como
o vigário apostólico de Rudu, na Namíbia, rechaçou este recurso, considerando que
não resolve o problema e promove a promiscuidade.
O namibiano Dom Joseph Shikongo
apresentou à assembléia outra questão delicada: as experimentações de remédios em
populações africanas. Em seu pronunciamento, disse que “a eficácia terapêutica de
certos remédios não é provada, mas são vendidos na África para serem testados, com
dosagens por vezes perigosas. Às vezes – completou o vigário apostólico de Rudu –
circulam medicamentos cuja venda não é autorizada em seus países. Diz-se que a África
é mais exposta a este tipo de medicamentos por causa da sua limitada capacidade de
efetuar testes e pesquisas".
Dom Joseph terminou sua intervenção sugerindo
que a Igreja deveria pedir ao governo para favorecer o controle das atividades dos
curandeiros tradicionais e as suas práticas e medicamentos. (CM)