2009-10-13 10:29:54

Intervenção da Sra. Marguerite BARANKITSE, Fundadora da Comunidade Shalom, Ruyigi (BURUNDI), Auditora


Sra. Marguerite BARANKITSE, Fundadora da Comunidade Shalom, Ruyigi (BURUNDI)

Exactamente há 16 anos, o Burundi precipitava mais uma vez numa guerra civil que durou 12 anos.
O meu testemunho de hoje quer realçar em que medida, quem se diz cristão, pode renegar o baptismo quando pretende defender a própria pertença étnica.
Era o dia 24 de Outubro de 1993. Tínhamo-nos refugiado no Episcopado de Ruvigi; quando chegaram os assassinos; dado que eram da minha mesma etnia, sai antes para os bloquear. O primeiro assassino respondeu-me que antes de mais era um Tutsi e que deveria vingar os seus irmãos e irmãs de sangue. Respondi-lhe: «Não escolhi ser uma Tutsi, mas o baptismo sim, escolhi-o».
Não obstante fossem cristãos, não se envergonharam por matar diante dos meus olhos. Hoje, sem pedir perdão aos órfãos que deixaram, nem ao bispo (porque atearam fogo no episcopado), continuam a ir à missa sem mostrar no rosto qualquer vergonha.
Aprendemos a calar. Os pastores calam-se, o rebanho cala-se e continuamos a celebrar a missa dominical como um rito, não como uma comunhão fraterna.
É nas regiões com maioria cristã onde encontramos muitas crianças de rua, crianças-soldado, crianças «feiticeiros», etc. Não as deixemos só nas mãos das Ongs!
Sim, prezados pastores, religiosos e religiosas, as crianças têm-nos só a nós como família e, de facto, chamam-nos «pai» e «mãe». Tende a coragem de abri-lhes as portas das vossas sedes episcopais, conventos, casas, a fim de oferecer-lhes a identidade e o afecto da família.
Imitemos aquele bispo de «Os Miseráveis» de Victor Hugo, que abriu a própria catedral à noite para oferecer hospitalidade a todos os pobres. Sim, devemos ter a coragem de fazer da nossa África um lugar onde se pode «viver» bem.








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