Sínodo para a África salienta que para alcançar paz e reconciliação é essencial
a Doutrina Social da Igreja
(12/10/2009) Os padres sinodais apontaram a Doutrina Social da Igreja como central
para atingir a reconciliação e a paz no continente africano. Sexta-feira, durante
as intervenções da tarde, D. Francisco Chimoio, Arcebispo de Maputo, em Moçambique,
afirmou que a Igreja deve praticar actos que consolidem e dignifiquem a paz no continente
africano, “apelando aos governantes políticos e ao povo que protagonizem acções concretas”. Segundo
o Arcebispo deve existir um combate “efectivo” contra a corrupção, discriminação e
opressão, sobretudo no sector público. A Igreja deve ter um “consciência purificada”
para trabalhar honestamente para o bem comum. D. Chimoio pediu que a Igreja seja “a
voz dos que não têm voz” e denunciadora de tudo “o que escraviza os homens”. “É
necessário que nos esforcemos para criar a paz interior e exterior e mantê-la, pois
é fruto da conquista e auto-disciplina”. O Cardeal Renato Raffaele Martino, Presidente
do Conselho Pontifício Justiça e Paz, apontou a necessidade de difusão do Compêndio
da Doutrina Social da Igreja. Os Bispos devem adequar formas para a “difusão e
a interpretação correcta da Doutrina Social”, traduzi-la para as línguas africanas
e em particular “difundi-la junto das casas de formação sacerdotal e religiosa, nas
catequeses, nos centros e institutos católicos de ensino superior, nas associações
trabalhistas, concretamente junto dos parlamentos, políticos e magistrados católicos”. O
Cardeal Martino pediu a criação de um Instituto Superior Católico de vocação continental
e universal, especializado na formação social em África. D. Robert Christopher
Ndlovu, Presidente da Conferência Episcopal do Zimbabué, demonstrou a sua preocupação
pelo apoio dos sacerdotes a partidos políticos. “Este apoio tem como consequências
a divisão das comunidades cristãs que eles servem”, indicou. O prelado do Zimbabué
indica que a Igreja não investiu o suficiente na sua doutrina social. Os sacerdotes
devem “dominar a Doutrina Social da Igreja durante seus anos de formação”. A Igreja
deve “falar em nome dos oprimidos”. Sobre o activismo político, o prelado apontou
a necessidade de uma participação positiva sob pena de um contributo “destrutivo”. Por
sua vez o presidente da conferencia episcopal de Moçambique, o bispo de Xai-Xai D.
Lúcio Muandula realçou o facto de na assembleia sinodal, por diversas ocasiões ouviu-se
dizer que, não raras vezes, os fiéis leigos envolvidos activamente na vida política
dos nossos países acabam por assumir comportamentos e atitudes nefastas em relação
aos princípios fundamentais da fé e da moral cristãs. De facto, - constatou - na sua
vida quotidiana, os fiéis leigos vêm-se frequentemente divididos entre a fé cristã
e a opção política, como se a vida cristã e a actividade política fossem duas realidades
a prior incompatíveis. Para obviar tal situação, propôs que a assembleia sinodal
examinasse atentamente as razões mais profundas desta dicotomia para permitir que
os fiéis possam no futuro viver serenamente a sua vocação cristã, sem terem necessariamente
que abdicar da sua participação activa na política. Na realidade, -salientou -
sem descurar que o desejo desordenado do poder e da grandeza muitas vezes ofuscam
aquela luz da fé com que os fiéis leigos deveriam iluminar o mundo da política, acho
que os cristãos católicos envolvidos na actividade política em África experimentam
uma grande solidão e um certo abandono por parte da hierarquia das suas igrejas particulares.
Não sendo suficientemente acompanhados e encorajados pelos seus pastores e devendo
actuar num mundo tecido de intrigas e de ambições sem fim, acabam por perder-se, causando
algumas vezes danos irreparáveis à própria Igreja de que são filhos. Infelizmente,
disse o bispo de Xai-Xai , vivem a sua fé cristã como algo desligado da vida quotidiana
e da actividade social através da qual devem contribuir na construção do bem comum.