No Sínodo, arcebispo moçambicano recorda papel da Igreja na reconciliação do país
ealerta para retrocessos na vida política do continente
(12/10/2009) Perante a assembleia sinodal interveio nesta segunda de manhã, D. Jaime
Pedro Gonçalves, que pôs em destaque várias iniciativas de reconciliação, da parte
da Igreja Católica, em África. Nomeadamente uma relativa à África Austral no seu conjunto
e a outra no caso de Moçambique. Isso “para concluir que devemos intensificar estas
e mais iniciativas para a reconciliação”.
Nos anos 80 – lembrou o arcebispo
da Beira – havia na África Austral muita violência e instabilidade política, com três
guerras civis, lutas pela libertação nacional e o problema da luta ao apartheid. Os
bispos dos nove países da região elaboraram então “um programa de reconciliação através
do diálogo”: uma Carta Pastoral “Justiça e Paz na África Austral”, assinada na presença
de João Paulo II, na visita que realizou ao Sul do continente, em 1988. “Foi
bonito ver bispos, padres e leigos empenhados nesta causa – sublinhou D. Jaime. Apareceram
líderes políticos que procuravam e acreditavam na reconciliação. Colaborou-se com
outros líderes religiosos”… Finalmente, “a violência cessou, construiu-se a paz e
a alegria voltou a reinar entre as pessoas”.
No caso de Moçambique (recordou
ainda o arcebispo da Beira), a guerra civil durava desde há 16 anos. Os bispos decidiram
trabalhar pela reconciliação do país. João Paulo II animou-os. “Após um trabalho duro
e perigoso”, conseguiram convencer as partes a fazerem a reconciliação. A Secretaria
de Estado do Vaticano colaborou também. Foi ali enviado o cardeal Etchegaray. Empenharam-se
também o governo italiano e a Comunidade de Santo Egídio. Com a mediação da Igreja,
ao fim de dois anos chegou-se a um Acordo de Paz, em Outubro de 1992. “As partes decidiram
perdoar-se mutuamente todo o passado de violência. A paz dura até hoje e não houve
nenhum acto de vingança em todo o país”.
Concluindo, o Senhor D. Jaime Pedro
Gonçalves propôs que se aprofundem e promovam no continente africano estes esforços
no “difícil ministério de construir a Paz” e de “edificar a justiça e a reconciliação
nas nossas Igrejas e sociedades”. “A Igreja deve formar reconciliadores e pacificadores
para a resolução dos conflitos”. “Os povos africanos demonstram muito apreço por estas
iniciativas da Igreja” – assegurou.
A concluir, uma última sugestão: “poder-se-ia
pensar num jubileu de reconciliação em todo o continente africano, (embora) sem indulgenciar
a impunidade de crimes contra a humanidade”. “Seria um fruto admirável e necessário”,
na era da globalização, a bem de “um progresso social e espiritual mais sólido”.