2009-10-11 15:30:31

Intervenção do Card. Théodore-Adrien SARR, Arcebispo de Dakar (SENEGAL)


S. Em. R. Card. Théodore-Adrien SARR, Arcebispo de Dakar, Primeiro Vice-Presidente do Simpósio das Conferências Episcopales da África e Madagascar (S.C.E.A.M.) (SENEGAL)

Um dos tristes fenómenos que alimenta a imagem negativa da África através dos meios de comunicação é a migração clandestina de milhares de africanos para a Europa ocidental, em particular a perda de vidas humanas que se verifica periodicamente entre as areias do Saara, nas águas do Oceano Atlântico e do Mediterrâneo, que a mídia nunca deixa de informar. Gostaria de ressaltar o carácter revelador do fenómeno da migração clandestina. A aventura tão arriscada dos migrantes clandestinos é um verdadeiro grito de desespero, que proclama a gravidade das suas frustrações e o ardor do seu desejo de maior bem-estar, diante do mundo.
Percebemos este clamor de desconforto e o deixamos penetrar no nosso coração a ponto de procurar entender o seu sentido e alcance? Deixamo-nos interpelar por estes dramas até buscar as causas do fenómeno. Limito-me a citar algumas, indicadas nos números 12 e 25-28 do Instrumentum laboris: são os factores que impedem a realização de um desenvolvimento económico que reduza progressivamente a pobreza nos países no Sul do Saara. Assinalamos o saque denunciado com frequência dos recursos naturais da África. Outra chaga denunciada frequentemente é a corrupção dos dirigentes africanos que concedem, através de comissões secretas, vantagens e lucros despropositados às multinacionais, em detrimento do próprio país. Como não mencionar todos os conflitos internos, fomentados ou alimentados pelos comerciantes de armas para os seus negócios, que lançam tantos homens, mulheres, crianças e jovens nas estradas do exílio? Na minha opinião, eis algumas das tristes realidades que devem suscitar as nossas consciências toda vez que os meios de comunicação nos narrar o drama da migração clandestina. Acrescentemos o conhecimento das causas desta migração a fim de nos empenhar
mais na luta para pôr fim a estes dramas. De facto, sabemos que não são as barreiras da polícia, por quanto possam ser intransponíveis, a deter a migração clandestina, mas a redução efectiva da pobreza através da promoção de um desenvolvimento económico e social que se estenda às massas populares do nosso país. Eis porque, no CERAO, nutrimos a ambição de suscitar em nós mesmos e junto dos africanos subsaarianos, um incitamento ou um renascimento do homem negro , radicado no encontro com Cristo e na comunhão com Ele. «Levanta-te, toma o teu leito, e anda» (Jo 5, 8), disse Cristo ao paralítico na piscina de Betesda. Que todos nós podemos encontrá-lo, de modo a ouvi-lo dizer também a nós «Levanta-te, toma o teu leito, e anda», «Levanta-te, toma o teu destino, e anda»! Esta segunda Assembleia Especial é um tempo de graça que o Senhor nos oferece para que nos empenhemos a procurá-lo para o encontrar, para nos fazer curar por Ele, para nos fazer reconciliar com Deus, connosco mesmos e com os outros por meio d’Ele, para alcançar por Ele o amor e a força para nos dedicar à promoção da justiça e do desenvolvimento dos povos, a fim de construir a paz no nosso país. Colhamos este tempo de graça para lançar apelos pela reconciliação, pela promoção da justiça e do desenvolvimento para construir a paz:
- apelos aos governantes dos nossos países, a fim de que se levantem e tomem nas mãos o destino do seu povo, até esquecer os próprios interesses pessoais e resistindo às pressões externas;- apelos a todas as forças externas que sobrecarregam negativamente sobre o destino da África negra: que aqueles que tomam as decisões reconheçam sinceramente os males causados à África e se empenhem a actuar pelo seu desenvolvimento autêntico, para reparar e para lhe fazer justiça.
Eis um modo para contribuir para a luta contra a migração clandestina e a fuga dos intelectuais.







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