2009-10-07 15:15:30

Intervenção do Card. Walter KASPER, Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos


S. Em. R. Card. Walter KASPER, Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (CIDADE DO VATICANO)



Enquanto, graças a Deus, houve um rápido crescimento da Igreja na África, infelizmente registrou também uma fragmentação cada vez mais profunda entre os cristãos. Esta situação não é peculiar somente na África, mas é facilmente atribuível à consolidação histórica da herança de cristianismo dividido que o continente recebeu. Hoje existem também inúmeras e novas divisões na África, como as recentes comunidades carismáticas e pentecostais, as chamadas Igrejas independentes e as seitas. Seu crescimento, a nível mundial, é extenso, e sua vitalidade no continente africano reflete-se na difusão das Igrejas independentes africanas, que acabam de criar uma instituição oficial, a OAIC, cuja sede está em Nairobi. Actualmente, há um diálogo de certo nível, por conta do Global Christian Forum, que se reuniu recentemente em Nairobi.

Em outros níveis, o diálogo com estes grupos não é fácil; muitas vezes é totalmente impossível, por causa de sua agressividade, sem falar em seu escasso conhecimento teológico. Para enfrentar este desafio urgente, devemos adotar um comportamento de autocrítica. Não é suficiente apontar seus erros; precisamos questionar-nos sobre o que está errado, ou aonde é carente o nosso trabalho pastoral. Por que tantos cristãos abandonam a nossa Igreja? O que falta para eles em nós? O que eles procuram em outros lugares? O PCPCU tentou fornecer as respostas em dois simpósios para bispos e teólogos, em Nairobi e Dacar. Estamos prontos para ajudar, inclusive no futuro. Neste contexto, gostaria de mencionar apenas dois pontos importantes: a formação catequética ecuménica e a construção de pequenas comunidades cristãs no coração das nossas paróquias.

Permitam-se agora citar alguns de nossos muitos desafios e compromissos:

1. Olhemos para trás, aos quase cinquenta anos de diálogo ecuménico. Desde o Concílio Vaticano II, realizaram-se progressos ecuménicos importantes, mas o caminho para a plena comunhão eclesial provavelmente é ainda longo e árduo, em função das persistentes dificuldades em nossos diálogos ecuménicos. Hoje, são necessárias medidas adequadas para esforçarmo-nos, com nossos parceiros ecuménicos, em um processo de acolhimento dos frutos do diálogo. O compromisso da Igreja a nível universal deve ser traduzido e assimilado nas Igrejas locais, nos âmbitos da catequese e da formação teológica, a níveis diocesano e paroquial.

2. Enquanto a Igreja Católica na África manteve tradicionalmente o diálogo constante com as tradições protestantes históricas, e hoje promove-o com as mais jovens, a recente e rápida difusão da ortodoxia no continente torna fundamental para a Igreja católica na África comprometer-se no diálogo e nas relações positivas também com nossos irmãos e irmãs ortodoxos.

3. A Igreja católica na África deve impulsionar as relações ecuménicas com os movimentos evangélicos, carismáticos e pentecostais no continente africano, vista a importância de suas expressões indígenas e de suas afinidades com a visão do mundo cultural tradicional africano. De um lado, tal compromisso ecuménico exige uma fidelidade inspirada nos princípios da Igreja sobre o ecumenismo (UR, nn. 2-4), e de outro, a compreensão específica das expressões culturais africanas. O diálogo e a busca da unidade devem levar em consideração o contexto das raízes culturais africanas. Com efeito, as raízes de árvores diferentes, separadas, mas próximas entre si, entrelaçam-se, embora continuem separadas em sua luta para acessar às mesmas fontes de vida, a terra e a água. Este ‘cruzamento’ é o emblema da aproximação ecuménica, relaciona-se à toda a questão da inculturação e da relevância do contexto.

4. A nossa busca da unidade na verdade e no amor não deve jamais prescindir da compreensão de que a unidade da Igreja é dever e dom do Espírito Santo, que vão bem além de nossos esforços ecuménicos (UR, 8). Todavia, o ecumenismo não produzirá frutos duradouros se não for acompanhado por gestos concretos de conversão, que movam as consciências e favoreçam a cura das recordações e das relações. Como afirma o Decreto sobre o Ecumenismo, “Não existe um ecumenismo verdadeiro sem a conversão interior” (UR, n. 7). Tal metanóia (UR, nn. 5-8; UUS 15s.; 83ss) aproxima-nos ainda mais de Deus, no centro de nossas vidas, de modo tal que nos faz aproximar ainda mais, uns dos outros.

Logo, o tema do sínodo representa um desafio para a Igreja na África a fim de que afine sua visão ecuménica e ofereça aos povos africanos a busca da unidade como tesouro auténtico do Evangelho. A Igreja católica na África é encorajada a continuar a construir pontes de amizade e, através de um ecumenismo espiritual orante e o consequente discernimento do desejo de Deus, a comprometer-se no “ministério da reconciliação” (2Cor 5, 18),que nos foi confiado por meio de Cristo. Esta é a base de nosso compromisso ecuménico. A renovação da vida interior do nosso coração e da nossa mente é o ponto crucial de todo o diálogo e a reconciliação, fazendo do ecumenismo um esforço recíproco de compreensão, de respeito e de amor, para que o mundo creia.








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