ARCEBISPO RAVASI: FÉ E RAZÃO DEVEM ENTRELAÇAR-SE ININTERRUPTAMENTE
Cidade do Vaticano, 06 out (RV) - "Fé e ciência" foi o tema da conferência
realizada dias atrás em Roma no Centro cultural São Luís de França. O evento, que
se insere no âmbito das iniciativas por ocasião da inauguração da nova midiateca,
teve a participação do presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Dom Gianfranco
Ravasi, e do geneticista e presidente da universidade Descartes de Paris, Dr. Axel
Khan. A importância desse encontro foi ressaltada pelo próprio arcebispo, entrevistado
pela Rádio Vaticano:
Dom Gianfranco Ravasi:- "Em primeiro lugar, a experiência
é significativa também pelo fato de a mesma se situar no contexto de uma embaixada
da França, um país que tradicionalmente é laico em sua própria estrutura, mas que
revela sempre mais, sobretudo neste último período, um interesse pelo diálogo intercultural
com expressões que são também diferentes que provêm do mundo religioso. Abordei com
o professor Khan dois temas em particular. De um lado, a necessária distinção entre
ciência e fé: dois âmbitos que devem custodiar suas fronteiras. Porém, se é verdade
que os métodos, os percursos, os itinerários são distintos, é também verdade que podem
existir entrelaçamentos, encontros. Por vezes, os encontros podem entrar em confronto:
porém, o caminho a ser seguido é dar espaço a uma teoria do diálogo entre os dois
campos."
P. É possível chegar à fé passando pela ciência?
Dom
Gianfranco Ravasi:- "A tradição cristã, filosófica cristã, afirma que sim. Aliás,
Santo Agostinho diz que uma fé que não é pensada é inútil, ou seja, a razão e a fé
devem entrelaçar-se ininterruptamente."
P. De certo modo, encontramo-nos
diante de um dos maiores desafios da sociedade atual...
Dom Gianfranco
Ravasi:- "Efetivamente, a sociedade atual encontra-se, por um lado, diante de
uma tentação muito forte de marginalizar o pensamento religioso considerando-o como
uma espécie de coisa do paleolítico cultural. Essa tentação por vezes é expressa num
mundo secularizado em formas também agressivas: basta pensar na chamada "ateologia",
isto é, a negação da religião numa maneira agressiva, numa maneira muito superficial,
certas vezes até mesmo fundamentalista. Por outro lado, devemos reconhecer que a cultura,
a sociedade contemporânea se interessam sempre mais de modo surpreendente pelas perguntas
que florescem e que não têm resposta no mundo da ciência: que encontram resposta no
mundo da sapiência, isto é, da filosofia, da teologia, de outros horizontes." (RL)