BISPOS ZIMBABUANOS: "CURAR AS FERIDAS DO PAÍS ATRAVÉS DA RECONCILIAÇÃO"
Harare, 02 out (RV) - "Somos todos culpados. As pessoas que foram vítimas da
violência se tornaram agressores enquanto outros não fizeram nada contra as atrocidades
perpetradas contra o nosso povo": foi o que disse a Conferência Episcopal de Zimbábue
na Carta Pastoral intitulada "Cura nacional e reconciliação".
Os prelados ressaltam
na missiva que hoje o povo zimbabuano precisa se curar das feridas e do sentimento
de culpa. "Esta cura facilita a reconciliação entre nós e com o nosso Criador. Quando
a nossa nação for curada e reconciliada, poderemos caminhar novamente rumo ao desenvolvimento
político, social, cultural e econômico" – afirmam ainda os bispos zimbabuanos.
Os
bispos analisam as raízes profundas das feridas causadas ao povo zimbabuano, destacando
três períodos da história do país: pré-colonial, colonial e da independência. "Toda
época tem suas fontes de conflitos político, econômico e cultural. O que torna a situação
mais complexa é que os conflitos que existiam antes do colonialismo foram utilizados
pelo sistema colonial para dividir o povo a fim de manter o poder. Alguns desses métodos
e estratégias foram utilizados no período pós-colonial" – frisam eles.
Os prelados
ressaltam que a "denominação colonial introduziu a discriminação racial que criou
ressentimento na população afro, além de fomentar o ódio entre os grupos que formam
a população de Zimbábue". Com a independência nacional Zimbábue viu melhorar suas
condições de vida ao tempo em que os zimbabuanos experimentaram o gosto da liberdade.
Os bispos frisam ainda os erros que foram cometidos por causa da euforia da
independência. "Nós nos esquecemos de olhar para aqueles que ficaram traumatizados
por causa da guerra pela independência, sobretudo os ex-combatentes. Ignoramos os
que viviam na pobreza, na discriminação e na opressão" – frisa a Conferência Episcopal
de Zimbábue.
Diante destes desafios ainda atuais a Igreja reitera seu compromisso
em promover a reconciliação nacional. "O tema da Segunda Assembleia Especial do Sínodo
dos Bispos para a África nos convida a trabalhar em prol de uma Igreja a serviço da
reconciliação, da justiça e da paz. Pedimos ao governo zimbabuano para que mostre
vontade política, criando um ambiente favorável para a reconciliação nacional" – concluem
os bispos. (MJ)