Entrevista com Maria Teresa Brassiolo, presidente de Transparency International Itália
sobre o fenómeno da corrupção em África.
(30/9/2009) A palavra corrupção aparece nove vezes no testo do “instrumentum laboris”
do Sínodo, e cupa um dos primeiros lugares na lista da sombras que obscurecem o Continente
e impedem o seu desenvolvimento. A palavra corrupção aparece em todos os contextos:
civil, social, económico, ético ….e todo o lado. Quais são os países africanos
mais atingidos pelo fenómeno da corrupção?
O índice de corrupção delineado
por Transparency é um índice de percepção da corrupção e fornece algumas pontuações:
10 são os países sem corrupção e 1 ou menos ainda são aqueles mais corruptos .
Portanto os Estados que estão dentro da pontuação de 1 são: a Somália que se encontra
no nivel mais baixo do nosso índice, depois temos o Sudão, a Guiné, o Chade, a Guiné
Equatorial, o Congo, Zimbabwe e de pois a Gâmbia e a Republica Democrática do Congo
que se encontra no 158º lugar, o Burundi, Angola….Encontramos muitos países africanos
no fundo da classificação.
Quais são as causas principais da corrupção em
África ?
Eu penso que são múltiplas : na minha opinião são os escassos
recursos dedicados á educação;. Quando as pessoas não conseguem defender-se, evidentemente
estão sujeitas a todo o tipo de vexação e a possibilidade de defender-se, também
criando uma actividade económica, uma independência económica, passa absolutamente
através da educação. Grande parte das ajudas que foram distribuídas pelas nações –
ajudas materiais - tiveram certamente um impacto pouco importante. Tiveram muito
mais as operações religiosas, da Igreja católica por exemplo, que promovem os valores,
a integridade, uma modalidade de comportamento que consegue combater a corrupção e
que consegue também formar coligações virtuosas contra a própria corrupção.
Primeiro
falámos dos países corruptos: podemos agora citar os Países onde o Estado funciona
efectivamente?
Recordo o Botswana , que muitas vezes é citado pela qualidade
do seu governo e também pelo relativo bem estar que atingiu. Porém devemos dizer que
ao lado deste caso não é que existem muitos outros. Também a África do Sul que está
a envidar grandes esforços, contudo não se encontra numa posição muito satisfatória.
Qual
é a responsabilidade do Ocidente em tudo isto?
Refiro-me
á publicação do Banco Mundial que se está a tornar muito céptico acerca do tipo de
ajuda que foi oferecida á África : parece que 40/ das ajudas oferecidas pelo próprio
Banco foi usado para objectivos diferentes daqueles previstos. Outros estudos (…)
identificaram nas ajudas, como foram oferecidas até agora, até mesmo a própria fonte
da corrupção. O dinheiro que entrava em África , a titulo benéfico, depois saída por
outros caminhos, indo parar aos “paraísos fiscais”, e portanto não produzindo nenhum
bem -estar para o País e para os objectivos para os quais tinha sido oferecido. Desta
maneira, uma acção meritória, como poderia ser uma ajuda transformava-se mesmo num
abuso (…) porque servia para engrossar as contas de varias personalidade que governam
aquele país. Um dado que gela o sangue.
A Igreja local, nos vários países
africanos esteve sempre empenhada na luta contra a corrupção. Na sua opinião fez-se
o suficiente ou a Igreja pode fazer ainda muito mais?
A Igreja fez muitíssimo
e provavelmente foi aquele que fez mais para ajudar a sociedade civil a formar uma
consciência, uma força interna para combater as violências . Certamente pode-se fazer
mais mas os recursos da Igreja não são infinitos. Os recursos que chegam por exmeplo
do Banco Mundial deveriam ser dirigidos á educação, porque haveria muito menos abusos,
haveria muito menos corrupção e ir-se-ia a incidir verdadeiramente num ponto fundamental.
O
Sínodo dos Bispos para a África pode indicar lingas – guia, traçar caminhos neste
âmbito?
Certamente sim, também graças á autoridade da Igreja e sobretudo
pela possibilidade que a Igreja tem de entrar nas casas, de entrar no espírito das
pessoas, coisas que os políticos normalmente não têm. A Igreja dirige-se também, muitas
vezes, ás mulheres que são muito sensíveis a estas problemáticas porque pensam mais
nos seus filhos do que em motivações politicas. Pendo que a Igreja teve sempre, mas
deveria ter ainda mais, um papel fundamental, e deveria pedir aos doadores internacionais
que façam passar as suas doações através dos sistemas educativos, talvez envolvendo
também muito a sociedade civil, dando os financiamentos, não aos governos, mas ás
organizações no território. E certamente aquela mais representada, aquela que tem
um poder de convicção forte é sem duvida a organização religiosa. É um caminho que
o Banco Mundial já está a percorrer.