Stará Boleslav, 28 set (RV) – Leia abaixo a íntegra da homilia de Bento XVI,
na missa celebrada esta manhã na esplanada de Melnik.
Senhores Cardeais, Veneráveis
irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, Caros irmãos e irmãs, Caros jovens,
Com
grande alegria vos encontro nesta manhã, enquanto vai concluindo minha viagem apostólica
na amada Republica Checa. A todos dirijo minha cordial saudação, especialmente ao
Cardeal Arcebispo, a quem sou grato pelas palavras que me dirigiu em vosso nome, no
início da celebração eucarística. Minha saudação se estende aos outros cardeais, aos
bispos, aos sacerdotes e às pessoas consagradas, aos representantes dos movimentos
e das associações leigas e especialmente aos jovens. Saúdo com deferência o Senhor
Presidente da República, a quem felicito por ocasião de sua festa onomástica; cumprimento
que me agrada endereçar a todos aqueles que se chamam Venceslau, e a todo o povo checo
pelo dia de sua festa nacional.
Nesta manhã, nos reúne em torno do altar a
recordação gloriosa do mártir São Venceslau, do qual pude venerar a relíquia, antes
da Santa Missa, na Basílica a ele dedicada. Ele derramou o sangue sobre vossa terra,
e sua águia, por vós escolhida como marca desta visita – como recordou há pouco vosso
Cardeal Arcebispo – constitui o emblema histórico da nobre Nação checa. Este grande
santo, que vós gostais de chamar de o “eterno “Príncipe dos Checos, nos convida a
sempre seguir Cristo com fidelidade, nos convida sermos santos. Ele mesmo é modelo
de santidade para todos, especialmente para os que dirigem o futuro das comunidades
e dos povos. Mas nos perguntamos: em nossos dias, a santidade é ainda atual? Ou talvez
não seja um tema pouco atraente e importante? Não se busca hoje mais o sucesso e a
glória humana? Quanto dura, porem, e quanto vale o sucesso terreno?
No século
passado – e esta terra o testemunhou – caíram muitos poderosos, que pareciam terem
alçado as alturas mais inacessíveis. De repente se viram privados de seu poder. Aqueles
que negaram e continuam a negar Deus e, consequentemente não respeitam o homem, parecem
ter vida fácil e conseguir um sucesso material. Mas basta ir pouco além da superfície
para constatar que, nestas pessoas, existem tristeza e insatisfações. Apenas quem
conserva no coração o santo “temor de Deus” confia no homem e dedica sua existência
a constituir um mundo mais justo e fraterno. Precisa-se hoje de pessoas que sejam
“crentes” e “críveis”, prontas para difundir em cada âmbito da sociedade os princípios
e ideais cristãos nos quais se inspira sua ação. Esta é a santidade, vocação universal
de todos os batizados, que impele cumprir o próprio dever com fidelidade e coragem,
não olhando o próprio interesse egoísta, mas o bem comum, e procurando em cada momento
a vontade divina.
Na página evangélica escutamos, a esse respeito, palavras
muito claras: ‘ Que vantagem - afirma Jesus - terá um homem se ganhar o mundo inteiro,
mas perder a própria vida?”. Incita-nos, assim, a considerar que o valor autêntico
da existência humana não é medido apenas com os bens terrenos e interesses passageiros,
porque não serão as realidades materiais a saciar a sede profunda de sentido e de
felicidade que existe no coração de cada pessoa. Por isso Jesus não duvida em propor
aos seus discípulos a vida “estreita” da santidade: “Quem perder a própria vida por
minha causa, a encontrará”. E decidido, nos repete nesta manhã:” Se alguém quer
vir atrás de mim, renegue a si mesmo, tome sua cruz e me siga”. Certamente é uma
linguagem dura, difícil de aceitar e colocar em prática, mas o testemunho dos Santos
e das Santas assegura que é possível a todos, se confiarmos e nos entregarmos a Cristo.
Seu exemplo encoraja quem se diz cristão a ser crível, isso é, coerente com os princípios
da fé que professa. Não é suficiente parecermos bons e honestos; é necessário sê-lo
de fato. Bom e honesto é aquele que não oculta com o seu eu a luz de Deus, não se
antepõe, mas deixa Deus transparecer.
Esta é a lição de vida de São Venceslau,
que teve a coragem de antepor o Reino dos Céus ao fascínio do poder terreno. Jamais
se cansou de olhar para Jesus Cristo, que padecendo por nós, deixou-nos o exemplo,
para que o sigamos em sua caminhada, como escreveu São Pedro na segunda leitura há
pouco proclamada. Como discípulo dócil do Senhor, o jovem soberano Venceslau se manteve
fiel aos ensinamentos evangélicos que lhe havia passado sua santa avó, a mártir Ludmila.
Seguindo-lhes,
ainda antes de se empenhar na construção de uma convivência pacífica dentro da Pátria
e com os países vizinhos, Venceslau trabalhou pela fé cristã, chamando sacerdotes
e construindo igrejas. Na primeira “narração” paleoslava se lê que “servia os ministros
de Deus e embelezava muitas igrejas” e que “fazia bem aos pobres, vestia os nus, dava
de comer aos famintos, acolhia os peregrinos, tudo de acordo com a Palavra do Evangelho.
Não tolerava que se fizesse injustiça às viúvas, amava todos os homens, fossem pobres
ou ricos”. Aprendeu do Senhor a ser “misericordioso e piedoso”, e animado pelo espírito
evangélico, chegou a perdoar seu irmão, que havia atentado contra sua vida. Justamente,
portanto, vós o invocais como “Herdeiro” de vossa Nação, e, em um canto bem conhecido,
lhes pedis que não permita que ela pereça.
Venceslau morreu mártir por Cristo.
É interessante notar que o irmão Boleslau conseguiu, matando-o, apoderar-se do trono
de Praga, mas a coroa que sucessivamente seus seguidores colocavam sobre a cabeça,
trazia seu nome. Ela porta o nome de Venceslau, testemunhando de que “o trono do rei
que julga os pobres na verdade está solidificado eternamente”. Este fato é considerado
como uma maravilhosa intervenção de Deus, que não abandona seus fiéis: “o inocente
vencido venceu o cruel vencedor, à semelhança de Cristo na Cruz”, e o sangue do mártir
não trouxe ódio e vingança, mas perdão e paz.
Caros irmãos e irmãs, agradeçamos
juntos, nesta Eucaristia, o Senhor por haver dado à vossa Pátria e à Igreja este soberano
santo. Peçamos, ao mesmo tempo, para que, como ele, nós também caminhemos com passos
firmes para a santidade. Certamente é difícil, pois a fé está sempre exposta a vários
desafios, mas quando se deixa atrair por Deus, que é a Verdade, o caminho se faz decidido,
porque experimenta a força de seu amor. Que a intercessão de São Venceslau e dos outros
santos protetores da Terra Checa nos obtenha essa graça. Que Maria, Rainha da Paz
e Mãe do Amor, nos proteja e nos assista sempre. Amém!