O turismo, celebração da diversidade : entrevista com D. Agostinho Marchetto, por
ocasião do dia mundial do turismo, 27 de setembro de 2009
(25/9/2009) O tema da diversidade sobre o qual tanto se discute em âmbito migratório
vem exatamente celebrado pelo turismo: pode dar-nos uma sua interpretação? Este
ano ocorre a trigésima edição do Dia Mundial do Turismo dedicada “à diversidade”,
uma realidade cada vez mais presente nas sociedades globalizadas e que è objeto de
profundas considerações. O tema deste ano escolhido pela Organização Mundial do Turismo,
O turismo, celebração da diversidade, faz referência a uma das suas forças
encorajantes, um dos seus recursos, enquanto que põe em contato modos de viver, religiões
e histórias diversas.Como afirmamos na Mensagem Pastoral do nosso Conselho
Pontifício para a ocasião, este “abre caminhos de encontro com o homem na sua diversidade
e na sua riqueza antropológica”. A diversidade então surge, como dado positivo,
como bem que deveria levar a interessar-nos por culturas diversas para possivelmente
receber um enriquecimento em humanidade. A experiência da diversidade deveria, porém,
favorecer o crescimento e a maturidade pessoal. Tudo isto, naturalmente exige um empenho,
seja por parte do turista como de quem o acolhe para “não fechar-se na própria cultura”.
Precisaria estar predisposto ao encontro, a abrir-se ao diálogo com respeito. Com
frequência, o estado de ânimo descontraído das férias e o bem-estar do qual o turista
se beneficia favorecem a superação da desconfiança para com os outros e dispõem a
superar os próprios limites, a apreciar quem è diferente de nós, até o ponto de fazer
nascer sentimentos de compreensão e de paz. Na nossa Mensagem se afirma também que
“no contemplar a diversidade, o homem descobre os traços do divino nas pegadas do
humano. E, para o credente, o conjunto das diversidades abre caminhos para aproximar-se
da infinita grandeza de Deus”.
A última Encíclica de Papa Bento XVI, Caritas
in veritate, dedica um parágrafo ao turismo, salientando neste, elementos positivos
e negativos. Gostaria de fazer alguma consideração a respeito? Trata-se
de uma parte muito importante do n. 61, no qual o Santo Padre, refletindo sobre o
fenômeno do turismo internacional, afirma que isso “pode constituir um notável fator
de desenvolvimento econômico e de crescimento cultural”. O pensamento do Papa navega
na grande realidade turística, a qual repercute em milhões e milhões de seres humanos,
levando consigo incentivos e benefícios significativos ao desenvolvimento, como –
observa o Santo Padre – os aspectos econômicos combinem-se com os culturais, sendo
o educativo o primeiro deles. Tal aspecto, com a formação e com a ética, contribuem
a dotar o turismo de grandes potencialidades, para combater a pobreza, a exploração
dos recursos e a desvalorização das culturas. Existe porém, o perigo, como adverte
o Santo Padre, de que o turismo possa ter um crescimento egoístico, consumista é insustentável.
Isto pode também transformar-se em ocasião de exploração e degradação moral, como
no caso “do chamado turismo sexual, em que são sacrificados muitos seres humanos,
mesmo de tenra idade". Devemos todos recordar sempre, que o fim último de nossa ação
é o bem-estar integral do homem e que, especialmente neste âmbito, é necessário seguir
o convite de Bento XVI a “pensar num turismo diferente, capaz de promover um verdadeiro
conhecimento recíproco, sem tirar espaço ao repouso e ao divertimento sadio”.
Então, que tipo de turismo seria bom desenvolver? Gostaria de utilizar um termo
que poderia quiçá parecer um pouco retórico, porém é cheio de significado, falaria
pois de um turismo com “rosto humano”, que encontra na acolhida seu centro propulsor
e se caracteriza por assumir responsabilidade em nível individual e coletivo. Um turismo
assim convida a formas mais sóbrias de comportamento, voltadas à socialização e à
solidariedade, à ecologia e ao desenvolvimento sustentável. Isto pressupõe uma convergência
de empenho por parte dos Governos, com leis e medidas específicas dos organismos internacionais,
com protocolos adequados, e da Igreja, com a sua presença pastoral, vigilante e caridosa,
para fazer com que os direitos das pessoas sejam sempre antepostos ao mero benefício
e que seja acessível a todos para usufruir dos bens naturais, culturais e artísticos.
“Um turismo deste gênero há-de ser incrementado, graças também a uma ligação mais
estreita com as experiências de cooperação internacional e de empresariado para o
desenvolvimento” como escreve o Santo Padre na Caritas in veritate (n. 61). Além
disso, a sinergia de intenções, entre os protagonistas do turismo, quer dizer, os
hoteleiros, as agências de viagem, os meios de comunicação e as instituições educacionais,
podem contribuir também a contrastar as formas mais degradantes do turismo, oferecendo
dados, por exemplo, sobre as implicações jurídicas para os turistas que transgridam
as leis. Dá-se assim apoio legal, psicológico e religioso às vitimas de sua exploração. A
Igreja na realidade concreta das dioceses, das paróquias, dos agentes pastorais e
das associações, também se prodiga em favor de quantos acolhem o turismo, se beneficiam
ou sofrem dele. A Igreja deseja oferecer a todos a sua assistência pastoral dirigida
a um fenômeno turístico que saiba valorizar a dimensão contemplativa da vida, celebrando
igualmente o dia do Senhor, que é um dia de festa do homem com Deus