BENTO XVI NA REPÚBLICA TCHECA: NECESSIDADE DA FÉ PARA QUE EUROPA SEJA CASA ESPIRITUAL
DE TODOS
Praga, 26 set (RV) - Esta tarde, prosseguindo seus compromissos na 13ª viagem
apostólica internacional, a 1ª a República Tcheca, o Santo Padre foi ao Castelo de
Praga – sede da Presidência da República - para uma visita de cortesia ao presidente
Václav Klaus.
Bento XVI foi calorosamente acolhido na entrada pelo chefe de
gabinete do presidente e pelo chefe do corpo de guarda que o acompanharam até a Sala
do Trono para a assinatura no Livro de Ouro do Palácio, onde o aguardavam o presidente
Klaus e consorte. Em seguida, se deslocaram para a Sala Augsburg, onde teve lugar
o encontro privado.
Ao término do encontro tiveram lugar a troca de presentes
e as fotos oficiais com os familiares, na Sala dos Espelhos. O papa presenteou o presidente
tcheco com um quadro em mosaico com uma representação de São Venceslau, mártir, principal
padroeiro da nação.
Em seguida, acompanhado do presidente Klaus e consorte,
o Santo Padre se deslocou para a Sala Espanhola do Palácio presidencial para o encontro
com autoridades políticas e civis e com o corpo diplomático.
Encontravam-se
também presentes reitores das universidades da República, representantes da Igreja
Católica, expoentes da sociedade civil, do mundo empresarial e cultural do país.
Após
a saudação do presidente tcheco ao papa, na qual ressaltou a alegria da nação ao receber
o ilustre visitante, destacando também a importância do evento, o papa dirigiu um
discurso aos presentes.
Ao agradecer ao presidente tcheco pelas gentis palavras
de saudação a ele dirigidas em nome de todos, Bento XVI destacou o contexto no qual
se insere essa sua visita pastoral ao país.
"A minha visita pastoral à República
Tcheca coincide com o 20º aniversário da queda dos regimes totalitários no Centro
e Leste da Europa, e da "Revolução de Veludo" que reinstalou a democracia nesta nação"
– frisou o papa, acrescentando:
"As aspirações dos cidadãos e as expectativas
depositadas nos governos reclamavam novos modelos na vida pública e de solidariedade
entre nações e povos, sem os quais o futuro de justiça, de paz e de prosperidade,
longamente esperado, teria ficado sem resposta."
O Santo Padre ressaltou que
hoje, especialmente entre os jovens, emerge novamente a pergunta sobre a natureza
da liberdade conquistada. Por qual finalidade se vive em liberdade? Quais são os autênticos
traços distintivos da liberdade?
O papa prosseguiu observando que toda geração
tem a tarefa de empenhar-se na árdua busca de como ordenar retamente as realidades
humanas, esforçando-se em compreender o uso correto da liberdade.
A esse propósito,
"a liberdade busca uma finalidade e por isso requer uma convicção.
"A verdadeira
liberdade pressupõe a busca da verdade – do verdadeiro bem – e, portanto, encontra
o seu cumprimento precisamente no conhecer e fazer aquilo que é reto e justo."
Em
seguida, o papa citou Aristóteles, que em sua "Ética a Nicômaco" define o bem como
"aquilo para o qual tendem todas as coisas".
Bento XVI reconheceu o papel das
autoridades da política e da economia, destacou uma mais profunda compreensão da liberdade
e da sua relação com a fé, indicando que a renovação espiritual da nação e da Europa
é responsabilidade não somente dos chefes religiosos, mas também civis.
A Europa
é "mais que um continente", é uma "casa", uma "pátria espiritual" onde o cristianismo
desempenha um papel "insubstituível" para "a formação da consciência de toda geração
e para a promoção de um consenso ético de fundo, a serviço de toda pessoa" – frisou
ainda o Santo Padre.
A Europa, fiel a sua raízes cristãs, tem uma particular
vocação a defender uma "visão transcendente nas suas iniciativas a serviço do bem
comum de indivíduos, comunidade e nações".
Referindo-se à República Tcheca,
o papa ressaltou que durante séculos aquela terra foi ponto de encontro entre povos,
tradições e culturas. Como bem sabemos – frisou – ela conheceu capítulos dolorosos
e traz as cicatrizes dos trágicos eventos causados pela incompreensão, pela guerra
e pela perseguição.
"Todavia – acrescentou – é também verdadeiro que suas raízes
cristãs favoreceram o crescimento de um considerável espírito de perdão, de reconciliação,
que tornou o povo dessas terras capaz de reencontrar a liberdade e de inaugurar uma
nova era, uma nova síntese, uma renovada esperança."
"Não é justamente desse
espírito que a Europa de hoje precisa?" – perguntou-se Bento XVI. O Santo Padre concluiu
seu discurso invocando de coração a abundância das bênçãos divinas para o povo tcheco.
(RL)