(25/9/2009) É necessário prestar uma atenção particular ao Continente africano,
onde o mapa do desenvolvimento regista fortes desigualdades. Na África, a situação
é diferente de país a país; aliás, observa-se uma tendência à polarização entre situações
de bom êxito na obtenção de recursos e da sua frutificação, e situações de total marginalização.
Por exemplo, só poucos países africanos atraem investimentos estrangeiros directos
não exclusivamente interessados na exploração dos recursos minerários ou energéticos.
Depende muito da situação interna de cada um dos países; segundo os termos do "Monterrey
Consensus", da capacidade de mobilizar recursos internos e de lutar contra fugas de
capital, evasão fiscal e corrupção. Além disso, é evidente que em situações
de conflito armado infelizmente numerosas na África a dimensão económica do desenvolvimento
torna-se simplesmente improponível. Quanto ao perdão da dívida externa,
progressos foram alcançados; todavia, os recursos para a eliminação da dívida raramente
foram adicionais em relação aos fluxos de ajuda, e isto comportou efeitos de recomposição
dos balanços públicos sem um real incremento dos recursos disponíveis para as acções
de luta contra a pobreza. Dois pontos devem ser oportunamente salientados.
Um diz respeito às opções de política internacional dos governos africanos: deve-se
apoiar a crescente vontade de cooperação internacional Sul-Sul, num continente onde
adquirir uma certa familiaridade com a cooperação internacional poderia contribuir
para orientar preventivamente os conflitos num espaço de negociação incruento. O segundo
refere-se às opções de política interna, em matéria de luta contra a pobreza e de
desenvolvimento: é necessário que sejamos promotores convictos da solução solidária,
que valorize e reforce as formas de resposta às necessidades que nascem "a partir
de dentro" da sociedade africana, que possui um grande património de cultura solidária
que sabe manifestar-se com uma extraordinária força de testemunho. A experiência
de cooperação internacional para o desenvolvimento já é suficientemente ampla para
permitir concluir que políticas e recursos "vindos do alto" podem produzir efeitos
benéficos imediatos, mas sozinhos não oferecem respostas adequadas para sair, de modo
sustentável, da pobreza. Os princípios de subsidiariedade e de solidariedade, tão
queridos à doutrina social da Igreja, podem inspirar um desenvolvimento autêntico,
no sinal de um humanismo integral e solidário. (Do documento
do Conselho Pontifício Justiça e Paz publicado na véspera da Conferencia de Doha sobre
o financiamento ao desenvolvimento – 18 de Dezembro de 2008)