Magistério de Bento XVI – trechos sobre a África :O laço profundo entre a África
e o cristianismo
(25/9/2009) Alguns momentos significativos da história cristã deste continente
podem recordar-nos a ligação profunda que existe entre a África e o cristianismo
a partir das suas origens. Segundo a venerável tradição patrística, o evangelista
São Marcos, que «transmitiu por escrito o que fora pregado por Pedro» (Ireneu, Adversus
haereses III, I, 1), veio a Alexandria reanimar a semente espalhada pelo Senhor. Este
Evangelista deu testemunho na África da morte na cruz do Filho de Deus – último momento
da kenose – e da sua elevação soberana, para que «toda a língua proclame: Jesus Cristo
é o Senhor, para glória de Deus Pai» (Fil 2, 11). A Boa Nova da vinda do Reino de
Deus espalhou-se rapidamente no norte do vosso continente, onde teve ilustres mártires
e santos e gerou insignes teólogos. Depois de ter sido posto à prova por
vicissitudes históricas, o cristianismo subsistiu, durante quase um milênio, apenas
na parte nordeste do continente. Com a chegada dos europeus, que procuravam a rota
para a Índia, nos séculos XV e XVI, as populações subsaarianas encontraram Cristo.
Foram as populações costeiras que receberam, em primeiro lugar, o baptismo. Nos séculos
XIX e XX, a África subsaariana viu chegar missionários, homens e mulheres, que provinham
de todo o Ocidente, da América Latina e mesmo da Ásia. Desejo prestar homenagem à
generosidade da sua resposta incondicional ao apelo do Senhor e ao seu ardente zelo
apostólico. Aqui queria ir mais além e falar dos catequistas africanos, companheiros
inseparáveis dos missionários na evangelização. Deus tinha preparado o coração de
um certo número de leigos africanos, homens e mulheres, jovens e de mais idade, para
receberem os seus dons e levarem a luz da sua Palavra aos seus irmãos e irmãs. Leigos
com os leigos, souberam encontrar na língua de seus pais as palavras de Deus que tocaram
o coração dos seus irmãos e irmãs. Souberam partilhar o sabor do sal da Palavra e
fazer resplandecer a luz dos Sacramentos que anunciavam. Acompanharam as famílias
no seu crescimento espiritual, encorajaram as vocações sacerdotais e religiosas, e
serviram de ligação entre as suas comunidades e os presbíteros e os bispos. Com naturalidade,
realizaram uma eficaz inculturação que deu maravilhosos frutos (cf. Mc4, 20). Foram
os catequistas que permitiram que a «luz brilhasse diante dos homens» (Mt 5, 16),
porque, vendo o bem que faziam, populações inteiras puderam dar glória ao nosso Pai
que está nos céus. São africanos que evangelizaram africanos. Evocando a sua memória
gloriosa, saúdo e encorajo os seus dignos sucessores que trabalham hoje com a mesma
abnegação, a mesma coragem apostólica e a mesma fé dos seus antecessores. Que Deus
os abençoe generosamente! Durante este segundo período, a terra africana foi abençoada
com numerosos santos. Limito-me a nomear os gloriosos mártires do Uganda, os grandes
missionários Ana-Maria Javouhey e Daniel Comboni, bem como a Irmã Anuarite Nengapeta
e o catequista Isídoro Bakanja, sem esquecer a humilde Josefina Bakhita
(Do discurso de Bento XVI durante o encontro com os membros do conselho especial
para a África do sínodo dos bispos na nunciatura apostólica de Yaoundé -19 de marco
de 2009)