Magistério de Bento XVI – trechos sobre a África :Não esquecemos a África e as
suas numerosas situações de guerra e de tensão: o drama do Darfur, o agravar-se da
situação no Corno de África
(25/9/2009) Considerando a situação política nos diferentes continentes, ainda
encontramos motivos de preocupação e de esperança. Verificamos, em primeiro lugar,
que a paz é com muita frequência frágil e até injuriada. Não podemos esquecer o Continente
africano. O drama do Darfour continua e expande-se às regiões fronteiras do Chade
e da República Centro-Africana. A comunidade internacional parece ser impotente há
quatro anos, não obstante as iniciativas destinadas a aliviar as populações provadas
e a dar uma solução política. Só mediante uma colaboração activa entre as Nações Unidas,
a União Africana, os governos envolvidos e outros protagonistas é que estes meios
poderão tornar-se eficazes. Convido-os a todos a agir com determinação: não podemos
aceitar que tantos inocentes continuem a sofrer e a morrer deste modo. A
situação no Corno de África agravou-se recentemente, com a retomada das hostilidades
e com a internacionalização do conflito. Ao fazer apelo a todas as partes para que
abandonem as armas e adoptem a negociação, seja-me consentido recordar a memória da
Irmã Leonella Sgorbati que deu a sua vida ao serviço dos mais desfavorecidos, invocando
o perdão para os seus algozes. O seu exemplo e o seu testemunho inspirem todos os
que procuram realmente o bem da Somália. Alguns sinais positivos No
Uganda, é necessário desejar os progressos das negociações entre as partes, em vista
do fim de um conflito cruel que vê inclusivamente o recrutamento de numerosas crianças
obrigadas a tornarem-se soldados. Isto permitirá aos numerosos prófugos de regressar
às suas casas e de reencontrar uma vida digna. A contribuição dos chefes religiosos
e a recente designação de um Representante do Secretariado Geral das Nações Unidas
são bons auspícios. Repito: não esqueçamos a África e as suas numerosas situações
de guerra e de tensão. É preciso recordar que unicamente as negociações entre os diferentes
protagonistas podem abrir o caminho a um regulamento justo dos conflitos e fazer entrever
progressos rumo à consolidação da paz. A Região dos Grandes Lagos está
ensanguentada desde há anos por guerras sem piedade. É necessário acolher os recentes
desenvolvimentos positivos com interesse e esperança, sobretudo a conclusão da fase
de transição política no Burundi e mais recentemente na República Democrática do Congo.
Contudo é urgente que os países se dediquem a um regresso ao funcionamento das instituições
do estado de direito, para corrigir todos os arbítrios e para permitir o desenvolvimento
social. Em Ruanda, faço votos por que o longo processo de reconciliação nacional depois
do genocídio encontre a sua saída na justiça, mas também na verdade e no perdão. A
Conferência internacional sobre a Região dos Grandes Lagos, com a participação de
uma delegação da Santa Sé e dos representantes de numerosas conferências episcopais
nacionais e regionais da África central e oriental, deixe entrever novas esperanças.
Por fim, gostaria de mencionar a Costa do Marfim, exortando as partes em causa a criar
um clima de confiança recíproca que possa levar ao desarmamento e à pacificação, e
por outro lado, a África Austral: nestes países, milhões de pessoas encontram-se numa
situação de vulnerabilidade, que exige a atenção e o apoio da comunidade internacional.
Sinais positivos para a África vêm também da vontade expressa pela Comunidade
Internacional de manter este continente no centro da sua atenção, e também do fortalecimento
das instituições continentais e regionais, que dão testemunho da intenção dos países
envolvidos a responsabilizarem-se cada vez mais pelo seu destino. É necessário também
elogiar a atitude digna das pessoas que, todos os dias, se empenham com determinação
para promover projectos que contribuem para o desenvolvimento e para a organização
da vida económica e social. (Do discurso de Bento XVI aos membros do Corpo
Diplomático acreditado junto da Santa Sé para a troca de bons votos de ano novo 8
de Janeiro de 2007)