2009-09-24 14:21:57

A educação para a reconciliação: entrevista com D. Nicolas Djomo bispo de Tshumbe, Presidente da Conferencia Episcopal Nacional do Congo


(24/9/2009) Como ensinar os valores da paz aos jovens?
R. – Através da nosso comissão Justiça e Paz desenvolvemos um vasto programa de educação á cultura da paz. Este programa foi inserido no curriculum das escolas primarias, secundarias e também superiores, O futuro do Congo depende do homem que formamos hoje. Como conferencia episcopal nacional do Congo estamos convencidos que um dos melhores contributos que podemos dar para o futuro deste país consiste em preparar um homem novo para o amanhã. E isto passa através da instrução e em particular a educação a uma cultura da paz. Actualmente temos programas nas escolas primárias para falar ás crianças mais pequenas de paz através da identificação com Cristo, dizendo-lhes , e isto é elementar – que o outro sou eu e que o mal que não posso fazer a mim mesmo não o posso fazer ao próximo. É um programa que está a produzir óptimos resultados e trabalhamos juntamente com outras Igrejas de maneira a atingir todas as comunidades crentes no nosso País, cristãs e não cristãs.
P- Os media são acusados de ás vezes fomentarem o fenómeno do ódio em África . Qual é o empenho da Igreja para a paz no novo contexto do pluralismo democrático e dos media?
R.- Os meios de comunicação social são um instrumento para unir as pessoas e como se sabe, a partir do Concilio Vaticano II, a Igreja deu um espaço importante á comunicação da Palavra de Deus, mas também á formação das consciências. Isto significa que para todos os meios de comunicação social a questão fundamental é o conteúdo.. Precisamos de media ancorados a um conteúdo de valor que possa formar o homem, a sua consciência , aos valores igualitários da paz, da justiça e dos direitos humanos. E isto é aquilo que devemos fazer e que fazemos no nosso País, em particular desde que muitas das nossas dioceses se dotaram de rádios comunitárias diocesanas e também de canais televisivos. Estamos a trabalhar intensamente para estabelecer conteúdos que reflictam a doutrina da Igreja e que coloquem o homem no centro de todos os valores (…). É uma tarefa importante.

P.- Como são as relações com as seitas?

R. – As relações com as seitas permanecem muito difíceis, na medida em que, em geral, elas se ocupam do seu humano de maneira perigosa para o seu bem estar espiritual. (…) O problema em geral é que os lideres destes grupos religiosos aproveitam-se da miséria material que aflige a população para procurarem oferecer soluções imediatas aos seus problemas, como a saúde e o emprego. Além disso estas seitas com as ilusões em que mergulham comunidades e famílias, subtraem estas pessoas ás suas responsabilidades e ás suas obrigações sociais. Na nossa opinião, isto é perigoso, e é o motivo pelo qual para nós é difícil trabalhar com as seitas, porque elas tendem sobretudo a explorar a miséria material do nosso povo. Mais ainda: pedimos que os legisladores tomem medidas para proteger os mais débeis, que são explorados por estas seitas. 
P.- Por outras palavras lotais pelo respeito dos direitos humanos, um tema amplo do qual se falará também no próximo Sínodo?
 
R.- Sim. Os direitos humanos são um tema amplo, muito importante e fundamental. Um país que se esforça no sentido de defender os direitos humanos é capaz de construir uma sociedade sólida no interesse de todos os sujeitos . Esta é a base de tudo e é por isso que nós, Igreja católica nos batemos pelo reconhecimento dos direitos das pessoas neste País. Quando lançámos o nosso programa de educação cívica, onde ensinamos o que são: as eleições, a democracia, o estado de direito, os direitos humanos num país onde a gente sofreu durante decénios de repressão -(…) começamos a explicar-lhes que têm direitos e que sem o respeito destes direitos, não é possível fundar uma republica em beneficio de todos. Portanto para nós a questão dos direitos humanos é fundamental e como disse, inserimo-la entre as matérias fundamentais de ensino nas escolas.
 
P. – Falou várias vezes da pobreza, do homem que é preciso salvar da miséria. É por isso que como bispos instituístes uma Comissão ad hoc encarregada de se ocupar da questão dos lucros provenientes dos recursos naturais?
 
R. – Sim. O nosso país possui imensos recursos, mas infelizmente, esta riqueza que poderia ser a base da riqueza da sua população, pelo contrario está na origem das suas desventuras. É por causa desta riqueza que conhecemos as guerras que causaram milhões de mortos e que são guerras económicas, e (…) hoje os focos de conflitos ou que alimentam os conflitos no Congo oriental são á volta das minas, têm motivações económicas. Aquilo que devemos fazer como congoleses, juntamente com a comunidade internacional, é garantir que esta riqueza possa ser destinada á população. (…) Isto exige uma legislação especifica, e nós os bispos, lançámos uma obra de sensibilização das grandes potencias, para que sejam decididas leis a nível nacional e também a nível internacional que tutelem tais recursos naturais de maneira que possam beneficiar o povo congolês e por conseguinte os países vizinhos e também o mundo. Mas sem tal legislação, esta riqueza é esbanjada, o Estado não pode receber os proventos a que tem direito. Por outras palavras, perdem todos, a população, o País. São os outros que exploram estas riquezas (..) Entre estes as multinacionais que contribuem para criar um circulo perigoso: as riquezas minerais alimentam os conflitos, porque permitem comprar as armas que são usadas contra as populações(…) É portanto muito urgente – e estamos em contacto com certos ambientes e Países estrangeiros que estão a preparar leis para proibir ás suas multinacionais a compra de minerais provenientes do Congo através de um sistema de certificação, com o objectivo de limitar esta delapidação de riquezas exploradas de maneira selvagem e que alimentam os conflitos que estão na origem da miséria do povo que é o proprietário destas riquezas. NO âmbito da conferencia episcopal nacional do Congo temos uma comissão sobre os recursos naturais que trabalha constantemente sobre este temas, e entre os soluções que encontramos, temos aquela de informar o cidadão comum congolês. Elaboramos um vademecum que distribuímos no país inteiro, através das nossas paroquias, para mostrar aos congoleses que as riquezas do subsolo lhes pertencem e que é necessário protegê-las a todo o custo
É necessário sensibilizar a base da sociedade congolesa para resistir aos saqueadores nacionais e internacionais.
P. – Depois de todas estas questões o que se pode dizer da inculturação? Esta prioridades, na África e no Congo, foi esquecida?

R. – Não, não foi esquecida, na medida em que a inculturação é a própria vida. É o Santo Padre que o diz no seu livro “Jesus de Nazaré” que nos convida a evangelizar a cultura e a inculturar o Evangelho. Trata-se de duas faces da mesma medalha: o encontro de Cristo como homem, o homem que recebe a Palavra de Deus (…) e ao mesmo tempo, este homem dá ao Evangelho que acolhe, uma parte de si mesmo. E hoje, a nível de investigação teológica, um teólogo procura examinar a questão deste ponto de vista.. Em primeiro lugar o Evangelho que veio encontrar o continente africano, o povo africano com a sua cultura, está a procurar transformar –lo num discípulo de Cristo com os valores positivos da sua cultura. E depois hoje, o homem africano vive num contexto especifico. É muito importante que a evangelização tenha em conta a situação concreta do homem que se evangeliza hoje, uma situação no Congo marcada pela guerra, pela pobreza, pelas doenças, a SIDA e por aquilo que um teólogo chama a “teologia contextual” (…) move-se nesta direcção. Portanto é uma questão actual, é parte de uma evangelização continua. Repito, é essencial que tomemos em consideração as situações em que vivem os africanos, os congoleses hoje. O Evangelho de Jesus Cristo vem interpelar-nos nestas circunstancias e nós somos chamados a trabalhar de maneira que o homem integral, nas suas múltiplas dimensões possa encontrar Cristo e ser salvo por Cristo.
(Padre Jean-Baptiste Malenge)
Escuta o original desta entrevista em francês: RealAudioMP3







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