2009-09-14 16:02:08

A África a caminho do Sínodo: reconciliação, justiça e paz uma necessidade urgente


(14/9/2009) .Os temas acima enumerados que requerem a nossa atenção e compromisso e as reflexões suscitadas pelo tema sinodal nas Igrejas particulares oferecem indicações sobre as “perspectivas” ou “obstáculos” encontrados no caminho da reconciliação, da justiça e da paz. Como relembrava o Santo Padre Bento XVI, aos Pastores do continente africano, «o empenho dos fiéis no serviço da reconciliação, da justiça e da paz é um imperativo urgente».
Para abrir um novo caminho em direcção à harmonia, certos Estados, isso foi salientado, inspiraram-se em modelos tradicionais de reconciliação e de práticas cristãs do sacramento da reconciliação (Conferências nacionais soberanas, Comissão “Verdade e Reconciliação” na África do Sul, etc.). Os resultados são mitigados, por vezes são mesmo imperfeitos, mas convidam, segundo parece, a identificar as experiências que obstaculizam a reconciliação para que a Assembleia sinodal reflicta sobre elas.
Reconciliação: as experiências da sociedade
A dimensão sociopolítica da reconciliação. Certas sociedades africanas foram levadas à ruína pelos seus dirigentes políticos. Alguns países foram o teatro de cenas trágicas de xenofobia, onde o estrangeiro simbolizava todos os males da sociedade e servia de bode expiatório: seres humanos foram queimados vivos, feitos em pedaços, famílias foram dispersadas, aldeias destruídas. Noutros países, confirmam algumas Igrejas particulares, certos partidos políticos utilizaram a fibra étnica, tribal ou regional para atrair populações à sua causa na conquista do poder, em vez de favorecer o viver em conjunto.
A dimensão socioeconómica da reconciliação. Notámos que a má gestão e a miséria que ela engendrou provocaram o tráfico de seres humanos, a exploração comercial da prostituição e o trabalho de menores; contribuiu em grande parte a destruir os laços de família, desestabilizar comunidades humanas inteiras e mandar para a estrada milhares de refugiados. Ao nível das nações, as zonas ricas em recursos petrolíferos ou mineiros tornaram-se rapidamente focos de conflitos, até mesmo de guerras entre povos vizinhos e nações.
A dimensão sociocultural da reconciliação. Alguns meios de comunicação (rádio, imprensa escrita, televisão) difundiram informações e imagens que incitaram as populações à violência e ao ódio, causando sérios danos aos valores que cimentavam o tecido familiar e social: o respeito pelos anciãos, as mulheres como mães e protectoras da vida, etc. As populações estão preocupadas com a perda crescente de identidade cultural, sobretudo por parte da juventude. E o olhar condescendente sobre a Religião Tradicional Africana acentua a desvalorização dos valores que deveriam constituir o património africano. Nota-se que esta relação com a religião do outro transforma-se, em certas partes do continente, em verdadeira rivalidade entre cristãos e muçulmanos.
Reconciliação: as experiências eclesiais
As Igrejas particulares pedem aos Padres sinodais para ajudarem a Igreja em África a melhor difundir a sua mensagem profética, que lhe permite falar com autoridade aos dirigentes políticos. Só o conseguirá se, em seu próprio seio, for capaz de fazer reinar a unidade, for capaz de resolver as suas próprias contradições. Porque as divisões étnicas ou tribais, regionais ou nacionais, as atitudes xenófobas verificam-se igualmente nalgumas comunidades eclesiais, nas atitudes e propósitos de certos pastores. As respostas aos Lineamenta dão conta, além disso, de discórdia entre alguns bispos e seu presbitério, e no interior duma mesma Conferência episcopal nacional insinuam-se tomadas de posição de certos bispos em favor de determinados partidos políticos. Acontece, nesses casos, que a Conferência episcopal não pode mais falar a uma só voz, para reclamar a unidade.
Para trabalhar pela reconciliação: que interpelações?
As experiências sociais e eclesiais interpelam a Igreja, salientam as respostas, a procurar as vias e os meios através dos quais se possam reconstruir a comunhão, a unidade, a fraternidade episcopal ou sacerdotal, a se revestir de coragem profética, a empenhar-se na formação de dirigentes leigos consolidados na sua fé para agirem no meio político, de modo a trabalharem em prol da coabitação das diferenças na sociedade. Conseguir, de igual modo, a formação de padres, religiosos e religiosas desejosos de serem sinais e testemunhas do Reino. A Assembleia, parece-nos, poderia reflectir sobre as razões profundas dos conflitos de tão grande amplitude em África.
(Sínodo dos Bispos – II assembleia especial para a África: instrumentum laboris)
 







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