A CARITAS IN VERITATE NÃO OFERECE SOLUÇÕES TÉCNICAS
Milão, 28 ago (RV) – A Igreja não dispõe de soluções técnicas a oferecer e
não pretende "minimamente imiscuir-se na política dos Estados". Em linha geral este
é o ponto-chave para a interpretação da encíclica Caritas in veritate, de Bento
XVI. É dessa perspectiva que todo o documento deve ser lido.
Essas afirmações
são do presidente do Banco de Piacenza, Itália, Corrado Sforza Fogliani, num artigo
publicado nos dias passados, num site da Internet dedicado à economia e às finanças.
Corrado
menciona essa afirmação contida na introdução da encíclica de Bento XVI, recordando
que a mesma asserção está contida na Centesimus annus e na Sollecitudo rei
socialis, ambas de João Paulo II, e sublinhando que esta última vai mais além,
ao afirmar que a Igreja, além de não propor sistemas ou programas econômicos e políticos,
não "manifesta preferências por uns ou por outros, contanto que a dignidade do homem
seja devidamente respeitada e promovida e a ela própria seja deixado o espaço necessário
para desempenhar o seu ministério no mundo".
Na atual crise econômica mundial
– prossegue Corrado Sforza Fogliani – o Papa Bento XVI não podia deixar de elevar
sua voz, para sublinhar a necessidade de que as finanças, enquanto tais, "com estruturas
e modalidades de funcionamento necessariamente renovadas depois da sua má utilização
que prejudicou a economia real, voltem a ser um instrumento que tenha em vista a melhor
produção de riqueza e o desenvolvimento". Nesse contexto, o presidente do Banco
de Piacenza sublinha a urgência de, no atual contexto, se adotar iniciativas financeiras
nas quais a dimensão humanitária seja dominante.
O que a Igreja sugere – não
dispondo ela de soluções técnicas a oferecer – é justamente o que a crise necessita
para que a economia possa voltar aos trilhos: solidariedade, ética e confiança. Recordemos
que o crédito se baseia justamente na confiança entre credores e devedores. E isso
comporta, para as instituições públicas – observa o presidente do Banco de Piacenza
– o dever de intervir segundo tais regras, a fim de evitar a prevaricação. (AF)