GUATEMALA: PRIMEIRO PROCESSO POR CRIMES NA GUERRA CIVIL
Cidade da Guatemala, 26 ago (RV) - Está sendo retomado nesta quarta-feira,
em Chimaltengo, noroeste da Guatemala – após um ano e meio de suspensão mediante recurso
apresentado pela defesa – o processo que tem como imputado o ex-paramilitar Felipe
Cusanero. O réu é acusado pelo "desaparecimento forçado" de seis indígenas, entre
1982 e 84, em meio à guerra civil iniciada em 1960 e concluída somente em 1996, com
um balanço de ao menos duzentas mil vítimas entre mortos e desaparecidos.
Trata-se
do primeiro envio a julgamento por crimes cometidos durante o conflito, fruto de uma
querela apresentada pela associação de familiares dos "detidos-desaparecidos" (Famdegua).
Entre
as provas que serão exibidas pela acusação pública figuram os relatórios "Memória
do Silêncio", feito pela Comissão para o esclarecimento histórico (Ceh) – sob a égide
da ONU – e "Guatemala, nunca mais", fruto do Projeto interdiocesano de Recuperação
da memória histórica (Remhi), fortemente defendido pelo bispo auxiliar de Guatemala,
Dom Juan Gerardo Conedera, assassinado no dia 26 de abril de 1998, dois dias após
a sua publicação.
Cusanero, que se encontra em estado de liberdade sob caução,
deve responder pela sorte de seis indígenas da comunidade de Choatalum, no município
de San Martín Jilotepeque.
Segundo o "Centro de ação legal para os direitos
humanos (Caldh), a retomada do processo poderia abrir caminho para outros processos
concernentes aos mais de quarenta e cinco mil desaparecidos, vítima da guerra.
Até
hoje, 99% dos crimes cometidos durante os 36 anos de conflito permanecem impunes,
conseqüência também da grande influência que as forças armadas continuam exercendo,
apesar de os acordos de paz contemplar a aposentadoria dos militares acusados de violações
dos direitos humanos e prever levá-los à justiça. (RL)