Prestar socorro aos clandestinos, no mar, é uma questão humanitária
(24/8/2009) Depois da nova tragédia ocorrida nas costas italianas, onde no passado
fim de semana, 73 eritreus morreram durante uma travessia rumo à península, o Presidente
do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes, D. Antonio Maria
Veglió reiterou que “todos os migrantes têm direitos fundamentais que devem ser respeitados,
em qualquer situação”.
Depois de passar 23 dias no mar sem combustível,
comida, água ou socorro, somente cinco pessoas conseguiram sobreviver e contaram a
sua odisseia . Segundo eles, mais de dez barcos passaram perto e não os socorreram.
As autoridades italianas e maltesas afirmaram duvidar deste relato, mas a repercussão
do episódio gerou críticas em todos os sectores sociais e políticos, e a condenação
unânime da ONU e da Igreja Católica.
“O ACNUR ficaria muito preocupado
se o endurecimento das políticas governamentais em relação aos imigrantes tivesse
o efeito de desencorajar os capitães de barcos a honrar as suas obrigações internacionais
marítimas” - afirmou o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, em relação à linha
dura adoptada pelo governo de Silvio Berlusconi para a imigração.
“Como
se o medo pudesse prevalecer sobre o dever de dar assistência no mar” - disse Laura
Boldrini, porta-voz do ACNUR, definindo o episódio como “alarmante” e “chocante”.
A
Igreja italiana, indignada, falou de “ofensa à humanidade”, denunciando que o Ocidente
mantém “os olhos fechados” como o fez diante dos combóios que levavam os judeus a
morrer em campos de concentração.
“Naqueles anos, o totalitarismo e o
terror faziam fechar os olhos. Hoje não. A indiferença é tranquila, resignada” - escreve
o jornal da conferencia episcopal italiana, Avvenire, em editorial na primeira página.
Este
diário recorda que “há uma lei do mar, muito mais antiga do que aquela codificada
em tratados, que ordena: no mar, socorre-se. Violar essa antiga lei ameaça as nossas
raízes fundamentais, a ideia do que é um homem e de como ele é precioso” - continua.
Falando
à RV, o arcebispo responsável pela Pastoral dos Migrantes, D. Veglió, referiu –se
também à imigração noutras áreas geográficas, como o deserto de fronteira entre México
e Estados Unidos; ou no Oriente; na África sub-Sahariana: “A realidade é a mesma;
são seres humanos em direcção a países ou regiões economicamente mais ricas, para
fugir da pobreza e da fome. Por isso, estão dispostos a deixar tudo, até a própria
vida”.
“Como afirma o Papa, este problema requer uma forte e iluminada
política de cooperação internacional, para ser adequadamente enfrentado” – declarou
D. Veglió, acrescentando que “é um direito humano ser acolhido e socorrido, e isto
acentua - se em situações de extrema necessidade, como por exemplo, quando se está
à deriva no meio ao mar. “É uma lastima que a sociedade seja tão egoísta e recuse
o estrangeiro” – acrescentou