2009-08-22 16:24:33

ACORDO BRASIL-SANTA SÉ É APENAS UM DOS TEMAS EM DEBATE


Jales, 22 ago (RV) – A religião volta e meia retorna ao centro dos debates. Um debate que se vê envolvido na emotividade das pessoas e que, exatamente por isso, carece de imparcialidade, de bom senso e de discernimento.

Nestes dias, este debate está-se intensificando, em decorrência de alguns eventos: o intento de um promotor de Justiça, de proibir qualquer símbolo religioso em espaços públicos; a ratificação, por parte do Congresso Nacional, do acordo Brasil-Santa Sé; e ainda as notícias de exploração financeira envolvendo uma Igreja acusada de extorquir dinheiro de seus membros e aplicá-lo para enriquecimento pessoal.

"Dada a complexidade do assunto – afirma o bispo de Jales, SP, Dom Demétrio Valentini − é bom invocar, de princípio, a prática de Cristo. Ele soube ser muito crítico diante de normas religiosas que careciam de sentido humano. Ao mesmo tempo, soube respeitar os gestos que traduziam a fé do povo, como a oferta da viúva no templo, ou o pedido insistente da mulher cananéia para a cura de sua filha."

"Mas, sobretudo – prossegue o prelado − Jesus lidava com as multidões com muita responsabilidade. Com freqüência, o evangelho observa que Jesus se detinha em "despedir as multidões". Assim fazendo, com certeza queria preservar o povo dos perigos que rodeavam, naquele tempo, as manifestações de massa. E queria, a todo custo, manter sua atividade e sua pregação dentro dos objetivos de sua missão, não permitindo que fossem deturpados por equívocos inerentes a utopias que a religiosidade suscita facilmente."

"A mesma prontidão de espírito deveria presidir a todos que lidam com a religiosidade do povo" – indica Dom Demétrio.

"Pois a religiosidade, por sua força de motivação popular – argumenta o bispo − se presta muito facilmente a explorações, sobretudo de ordem financeira. Basta conferir a escandalosa extorsão de dinheiro que é praticada por gente que invoca a condição de igreja para enganar o povo e mascarar seus objetivos."

Dom Demétrio explica que "a atividade religiosa, como qualquer outra, em sua prática externa cai sob o domínio da ética". "E tudo o que cai sob o domínio da ética – acrescenta − cai sob a responsabilidade do Estado, que tem o direito, e o dever de urgir a coerência ética de qualquer atividade pública. A atividade econômica de qualquer Igreja, como de qualquer indivíduo ou instituição, precisa se guiar pelas normas traçadas pelo poder público."

"Por razões históricas – argumenta Dom Demétrio − o Estado brasileiro se inibiu diante da religião. Desde a proclamação da República, ficou sem parâmetros para discernir o que é incumbência das religiões, e o que é atribuição do Estado. Diante deste embaraço estatal, com facilidade alguns colocam a máscara de "Igreja" para praticar abusos condenáveis, que deveriam ser coibidos pelo Estado."

"Uma das vantagens do "Acordo" que finalmente o Estado brasileiro acaba de celebrar com a Santa Sé – conclui o bispo de Jales − e que precisa ainda ser referendado pelo Congresso Nacional, é a de estabelecer pelo menos alguns parâmetros que ajudem a situar campos de competências, preservar legítimas autonomias, e estimular o cumprimento das respectivas responsabilidades."

"Pois é urgente – arremata o prelado − recolocar a fé a serviço da vida, e não deixar que ela seja explorada para enriquecimento ilícito e outras falcatruas que o Estado precisa reprimir." (AF)







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