Espiritanos adaptam-se às mudanças no mapa do catolicismo
(20/8/2009) O facto de a Europa ter deixado de ser a origem da maior parte dos missionários
é uma das consequências das transformações verificadas no mapa das vocações consagradas,
que, por sua vez, reflectem a alteração das regiões onde o catolicismo tem maior relevância
religiosa e social. Há 30 anos, os Espiritanos contavam com mais de dois mil europeus,
pouco ultrapassando a centena de africanos. Hoje, a congregação tem cerca de 1300
membros provenientes de África, além de religiosos originários da América Latina,
Ásia e Oceânia. “Estávamos organizados segundo critérios, mentalidades e tipos de
organização europeia, e isto já não corresponde à realidade”, refere o Pe. Eduardo
Miranda, membro do Conselho Geral dos Espiritanos. Esta mudança no rosto da congregação
repercute a diminuição das vocações à consagração religiosa na Europa e na América
do Norte – “onde o mundo cristão está um bocado adormecido” – e a sua expansão noutras
regiões do globo. Por outro lado, não se concretizaram as previsões que, há 30
anos, apontavam para uma clara diminuição no número de membros da congregação; pelo
contrário, os Espiritanos cresceram, contando actualmente com cerca de três mil religiosos,
presentes em 62 países. Apesar da denominada “crise de vocações”, todos os anos são
enviados, pela primeira vez, entre 50 a 60 missionários. Outra das conjecturas
que falhou foi o desafogo económico previsto para o início deste século: os “altos
problemas financeiros” devem-se ao facto de a congregação se ter estabelecido em 23
dos 34 países mais pobres do mundo. A realidade exige propostas criativas e o compromisso
individual. Os Espiritanos não perguntam o que é que a congregação pode dar a um determinado
país, mas o que é que eles podem dar à congregação. “Se há algo que nós não queremos
apoiar, é a criação de mentalidades assistencialistas”, “quer entre nós, que na relação
com o povo”, refere o Pe. Eduardo. Os projectos dos Espiritanos não se resumem
às regiões tradicionalmente associadas à missionação: na Europa e na América do Norte,
trabalham com emigrantes, dedicando-se igualmente aos grupos humanos “que ninguém
olha”. Concretiza-se, assim, um dos elementos mais importantes da identidade da congregação:
ir para onde mais ninguém quer estar. O Paquistão e a Mauritânia são alguns dos
países onde é muito arriscado ser católico. Ou na Argélia, onde o facto de se andar
com duas Bíblias pode conduzir à prisão e à expulsão. Ao trabalho dos religiosos
consagrados, junta-se desde há vários anos a acção dos leigos missionários. “Os leigos
recebem da nossa espiritualidade e tradição, mas nós também recebemos dos leigos o
seu jeito de estar no mundo”, reconhece o Pe. Eduardo Miranda. (Em ECCLESIA)