Cabul, 20 ago (RV) - “A situação em Cabul é desastrosa. Se continuar assim,
o Afeganistão pode se tornar um novo Vietnã. Os talebãs não querem que o país saia
do estado de atraso em que se encontra”.
A denúncia é de um religioso católico,
que pede o anonimato. Em Cabul, onde trabalha há muitos anos, é melhor que não saibam
que é padre: “algum fundamentalista pode aparecer e me degolar” – explica.
Sobre
as eleições de hoje, ele afirma que a situação é muito complicada e difícil: “a corrupção
é altíssima, Cabul é a única capital no mundo sem eletricidade”. O padre ressalva
que quando ajudadas, as pessoas reconhecem o esforço e o apreciam. “É o que as organizações
cristãs estão fazendo” – confirma.
Exemplo disso é o trabalho das 12 irmãs
das Pequenas Servas do Sagrado Coração em um centro que ajuda crianças com deficiências
em sua integração na escola. A lei estabelece que não-muçulmanos residentes no país
podem praticar a sua fé, mas não podem propagá-la.
Irmã Michela diz que a
situação não é fácil, mas a população quer a paz e está reconstruindo as casas. Já
Irmã Maria Assunta, esperançosa, conta que a comunidade católica é formada por estrangeiros
e que a única igreja está dentro da embaixada italiana. “Todos esperam que o voto
traga resultados positivos” – diz.
Hoje, milhões de afegãos comparecem às
urnas para eleger o novo presidente do país e membros dos conselhos locais das províncias.
Em
Cabul, o Presidente Hamid Karzai foi o primeiro a votar, cercado de intensas medidas
de segurança, em um colégio eleitoral do centro, nas segundas eleições presidenciais
realizadas no país desde a queda do regime talebã.
A princípio, todos os afegãos
são considerados muçulmanos. Segundo o artigo 3 da constituição afegã, “nenhuma lei
pode ser contrária à crença da sagrada religião do Islã”.
A apostasia (abandono
do Islamismo) e a blasfêmia são crimes passíveis de morte. Consequentemente, convertidos
e ateus podem ser condenados à morte.
Em maio de 2007, uma emenda à lei que
regula a mídia afegã proibiu a promoção de qualquer religião que não fosse o Islamismo.
Na época de seu governo, o regime dos talebãs impôs a rigorosa interpretação da
xariá. O país assistiu a uma vigorosa promoção do Islã e, por conseguinte, uma forte
opressão contra a pequena comunidade cristã.
Alguns países, como Irã e Arábia
Saudita, têm apoiado o Afeganistão, enviando líderes, livros religiosos e dinheiro.
O país abriga muitos muçulmanos radicais.
Os convertidos sofrem uma enorme
pressão. Se, em três dias, não retratam e voltam ao Islamismo, podem morrer. A maior
parte dos convertidos guarda sua fé para si e só a compartilha com pessoas que consideram
dignas de confiança.
Em novembro de 2008, insurgentes do Talibã assassinaram
uma voluntária com cidadania inglesa e sul-africana, de 34 anos, da agência “Servindo
o Afeganistão”.
Em julho de 2007, 23 jovens missionários evangélicos sul-coreanos
foram capturados na província de Ghazi, sul do país. Apesar de muitas tratativas,
o sequestro deixou como saldo dois reféns mortos e a promessa do governo sul-coreano
de conter o envio de missionários cristãos ao país.
Um relatório da ONU informa
que somente nos primeiros sete meses de 2008, houve mais de 120 ataques contra agentes
humanitários. No total, 92 pessoas foram sequestradas e 30 morreram. (CM)