Uberaba, 20 ago (RV) – O arcebispo de Uberaba, MG, Dom Benedicto de Ulhôa Vieira
publicou um artigo, nesta quinta-feira, no site do Jornal da Manhã, da cidade, onde
explica a origem e a função do bispo.
Eis o artigo, na íntegra:
"Vem-se
notando na imprensa o hábito lamentável de designar com o título de "bispo", o pastor
ou o líder de qualquer agrupamento religioso. Reflitamos: se
alguém colocar na porta de seu escritório ou de sua residência uma placa indicativa
com seu nome e – sem o ser – acrescentar "médico", "advogado", "professor" ou outra
profissão, pode ser processado por falsidade profissional. Igualmente com o termo
"bispo". Daí a necessidade de se ter noção exata do que seja o uso correto do termo. No
início da pregação evangélica, os apóstolos de Cristo escolheram colaboradores que,
após a sua morte, lhes sucedessem no governo das comunidades nascentes e na pregação
da mensagem cristã. Inicialmente eram chamados de "sucessores dos apóstolos", como
nos informa Clemente Romano, no ano 96 da era cristã, na bela e conhecida Carta à
Igreja de Corinto. A missão destes sucessores era responsabilizar-se
pelas comunidades que se formaram ao redor dos apóstolos, supervisionando a sua vida
evangélica. Daí o verbo "episkopein" (supervisionar), de que vem o substantivo "epískopos":
o que zela como guarda e protetor, por supervisionar o rebanho. Em latim "epíscopus"
e, em português bispo, isto é: o que tem a nobre missão, como autêntico sucessor dos
apóstolos, de responsabilizar-se pela comunidade dos fiéis. Hoje,
quem escolhe e nomeia o bispo é o sucessor de São Pedro, o Papa. O eleito recebe a
plenitude do sacramento da Ordem pela "keirotonia", isto é: imposição das mãos de
três outros bispos e pela unção e oração consecratória. Há, pois, uma corrente genealógica
ascendente, que chega até um dos doze apóstolos, do qual o bispo atual é verdadeiro
sucessor. Não fica pois, difícil entender que esta função de
suceder a um dos doze apóstolos, função de superintender o rebanho de Cristo – "episkopein"
– não pode ser usurpada. O despreparo teológico (ou ousadia) chega até a usar o termo
no feminino! A autoridade do bispo, sucessor dos apóstolos,
vem da palavra de Jesus aos doze: "todo poder me foi dado no céu e na terra. Ide pois:
batizai e ensinai que observem o que lhes ensinei." (Mt 28,19ss). Triste
saber que o termo que designa o poder espiritual de zelar pela Igreja, transmitido
por Jesus Cristo aos doze apóstolos e, posteriormente aos sucessores, seja usurpado
e vulgarizado, como vem acontecendo de algum tempo para cá. Esta explicação teológica
da palavra "bispo" e sua função nos mostram que seu uso atual para designar qualquer
líder religioso, não é apropriado e correto."
Dom Benedicto de Ulhôa Vieira
é membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. (AF)