Cidade do Vaticano, 18 ago (RV) - Para conseguir um desenvolvimento autêntico
é urgente "uma formação para a responsabilidade ética no uso da técnica": essa é uma
passagem da recente encíclica de Bento XVI, "Caritas in veritate", cujo último capítulo
é dedicado, justamente, "ao desenvolvimento dos povos e à técnica".
O Santo
Padre ressalta que, "fascinada pela pura tecnologia, a razão sem a fé está destinada
a perder-se na ilusão da própria onipotência". E acrescenta: a pesquisa sobre os embriões,
a clonagem "promovem-se na atual cultura do desencanto total, que pensa ter desvendado
todos os mistérios".
A propósito dessas reflexões do pontífice em sua Carta
encíclica, a Rádio Vaticano ouviu o presidente da associação "Ciência e vida", Dr.
Lucio Romano, ginecologista da Universidade Federico II de Nápoles, sul da Itália.
Eis o seu comentário:
Dr. Lucio Romano:- "O papa chama a atenção de
todos para o problema – extremamente atual – do fato de a técnica hoje representar
um dado a ser levado em consideração, diante também da passagem epocal de uma globalização
das ideologias a uma espécie de globalização da técnica. Portanto, vemos que, sendo
a técnica uma questão social é inevitável que a questão social enquanto tal evoque
também uma questão antropológica. Aí entramos no cerne do problema, ou seja, a técnica
não é absolutamente rejeitada pelo papa, mas, quando ela representa uma negação do
homem, uma superação do homem vista numa ótica destrutiva – com todas as suas possíveis
conseqüências – evidentemente não mais corresponde a uma ars ética. O papa
defende uma técnica que se enriqueça de sentido e de valor. O sentido e o valor não
podem ser encontrados a não ser na dimensão tipicamente humana de uma verdade antropológica,
onde a liberdade se conjuga com a responsabilidade."
P. A esse propósito,
o papa ressalta em sua nova encíclica que hoje "um campo primário e crucial da luta
cultural entre o absolutismo da técnica e a responsabilidade moral do homem é o da
bioética"...
Dr. Lucio Romano:- "De fato, uma bioética que tem como
referência uma antropologia. Uma antropologia certamente personalista, com a dimensão
de um personalismo ontologicamente fundamentado, onde se encontra, justamente, a dimensão
de uma defesa e de uma tutela da vida, da concepção até a morte natural, e não uma
bioética fundada numa absoluta dimensão de autodeterminação de liberdade que não respeita
o homem. Consideramos como uma dimensão respeitosa do homem uma bioética que se ocupe
da pessoa, que a assista, que tome conta dela, que esteja a seu lado, que proteja
a sua vida e que a acompanhe também nas fases terminais naquilo que é o progredir,
rumo à morte natural. Portanto, uma bioética que seja respeitosa do homem e que desenvolva
uma pesquisa científica que não seja, porém, substitutiva do respeito e da dignidade
do ser humano." (RL)